sexta-feira, 31 de julho de 2009

Celebração insuficiente


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Realizado entre os dias 15 e 20 de julho, na cidade de Brasília, o 51º Congresso da União Nacional dos Estudantes elegeu sua nova direção e plataforma política para os próximos dois anos.

A participação da Articulação de Esquerda e da tese Reconquistar a UNE durante todo o Congresso reivindicou uma intervenção da UNE e do movimento estudantil que estivesse à altura dos desafios colocados para os movimentos sociais: mobilização em torno de uma plataforma de medidas e reformas estruturais e a luta por uma Universidade democrática e popular, resistência à agenda conservadora que a direita disputa para a educação e para o país e engajamento na dura disputa de projetos preparada para 2010, contribuindo para radicalizar as mudanças em curso.

Retomar o protagonismo da UNE nas lutas estudantis do próximo período exige uma política mais avançada para a entidade, tendo em vista a necessidade de uma profunda democratização de sua estrutura e métodos de direção e a construção enraizada das entidades da rede do movimento. Esta política deve ir além da orientação da maioria dirigida pela UJS na UNE, pautada numa postura defensiva que pouco contribui para superar a crise presente de legitimidade e representatividade da UNE perante sua base social.

Outro desafio diz respeito a necessidade da UNE e do conjunto do movimento estudantil acompanhar as profundas mudanças ocorridas no perfil da juventude, dos estudantes e da educação superior, já que temas envolvendo a relação juventude, mundo do trabalho e educação adquirem maior centralidade nas pautas do movimento estudantil.

Diante de tais tarefas, foi insuficiente a resposta dada pelo 51º Congresso da UNE. A extensão do Congresso a quase totalidade das instituições de ensino reforça a referência da UNE perante amplos setores do movimento, mas não supera a relação apenas episódica e congressual com as universidades e as entidades estudantis que ainda é dominante.

Visto pela direção majoritária como um momento de “celebração”, o ConUNE foi retrato fiel dos limites dos fóruns do movimento. Problemas estruturais relevantes, concentração de todos os debates políticos em apenas um dia e o esvaziamento dos Grupos de Discussão reforçam a necessidade do movimento repensar seus fóruns. A UNE deve acompanhar as experiências de organização de outros movimentos sociais, das executivas e federações de curso, de experiências inovadoras de participação e metodologia presentes na I Conferência Nacional da Juventude, entre outros.

A política dos petistas e da Articulação de Esquerda

A Articulação de Esquerda deu conseqüência ao movimento iniciado no Congresso passado, de apresentar uma política que a partir de uma forte intervenção do PT no movimento estudantil se constitua enquanto alternativa política na direção da UNE. Essa tática encontrou eco em apenas parte da juventude do PT: a DS (Democracia Socialista) e o MAIS se abrigaram na chapa dirigida pelo PCdoB; enquanto isso a Articulação de Esquerda, a CNB, O Trabalho, Militância Socialista e Movimento PT construíram uma chapa comum.

Divididos em chapas diferentes, a participação dos petistas na executiva da entidade também foi diminuída: dos atuais seis diretores na gestão que se encerra, para apenas quatro petistas na próxima executiva da entidade. Ademais, a chapa do PT perdeu a condição de segunda chapa mais votada do Congresso para a chapa impulsionada pelo PSOL e pelo PCR.

Na chapa impulsionada pelos petistas (MUDE – Movimento UNE Democrática), a Articulação de Esquerda manteve sua participação na executiva da entidade, mas com presença diminuída na sua diretoria plena.

A agenda política

Temos que contribuir para que a UNE eleve o tom na disputa de projetos que está colocada para o país, o que exige uma postura mais radicalizada e menos contemplativa com relação aos governos, reitorias e tubarões do Ensino. Momentos como a Conferência Nacional de Comunicação e de Educação e o enfrentamento aos efeitos da crise econômica devem merecer atenção imediata dos movimentos de educação

No debate de educação, essa política deve alcançar duas grandes frentes: enfrentamento radical à hegemonia dos interesses privados na educação e incidir por mudanças políticas e pedagógicas mais ousadas para a universidade brasileira. Estas últimas, tanto mais necessárias em um cenário em que o governo aponta uma retomada da expansão do ensino público, mas não toca em questões estratégicas, tais como a democratização do governo das universidades e uma necessária revolução pedagógica nos métodos de transmissão do conhecimento, currículos e estruturas acadêmicas das instituições de ensino.

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