quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Ao camarada Eduardo, por seus 13 anos de JPT


Camarada Eduardo,

Tive a oportunidade de conhecê-lo nas minhas idas e vindas enquanto diretor de assistência estudantil da UNE, no período de 2005/2007, e sobretudo a partir do contato que passamos a ter quase que diário quando me mudei para São Paulo em 2007 para assumir o mandato de 1º vice presidente na executiva da mesma entidade.

Sua trajetória de contribuições à Juventude do PT, do movimento secundarista à construção da JPT da capital e do estado de São Paulo, já era extensa quando participei junto a ti e a outros valorosos companheiros de um momento que muito me marcaria na condução do I Congresso da Juventude do PT, sob a gestão do companheiro Rafael Pops.

Naquele Congresso, a teimosia e ousadia da juventude do nosso partido uniria todas suas tendências como há muito não se via no PT. Em meio a reclamações dos estados e disputas com a direção do partido, reuniões madrugada adentro e atas de Congressos municipais que não paravam de chegar por fax, assistíamos entusiasmados o despertar de idéias para uma nova juventude partidária.

Idéias essas, camarada, que por nossos limites e avanços, permanecem totalmente atuais se queremos transitar de uma juventude reduzida por muitos como mero setorial a "carregar pianos e engrossar passeatas" para uma Juventude de massas, com autonomia e militância para disputar amplos setores da juventude brasileira para as posições socialistas, democráticas e populares.

Reencontraríamo-nos ainda quando assumi, em substituição ao camarada Rodrigo Cesar, a coordenação de relações internacionais da JPT, cujas tarefas sempre foram apoiadas por ti durante esse período.

É compartilhando desta tua convicção de que nossas lutas têm valido à pena que saúdo a chegada do camarada Gabriel Medina à Executiva da JPT e com um breve "até logo" esta tua transição para outros espaços de luta nos quais como militante, comunista e petista que tu és, continuarás defendendo a importância do PT e da juventude na disputa de uma sociedade de mulheres e homens livres. Uma sociedade socialista.

Do camarada e amigo,
Bruno Elias


http://eduvaldoski.wordpress.com/
13 anos de Juventude do PT

Comuniquei à Direção Nacional da Juventude do PT a minha substituição nesta instância pelo companheiro Gabriel Medina, militante do PT/SP, membro do Conselho Nacional de Juventude e do Fórum Nacional de Movimentos e Organizações Juvenis.

Com isso, encerro 13 anos de participação em instâncias de direção da Juventude do PT. Neste período, tive a feliz oportunidade de participar, formular e/ou organizar importantes ações da juventude do nosso partido.

Cheguei até a Juventude do PT, como a maioria dos militantes naquele período, a partir da atuação no movimento estudantil, no caso, o secundarista. Desde de 1995 já participava de um núcleo do PT na zona sul de São Paulo. Mas foi a partir da atuação no ME que cheguei até a militância de juventude e que pude participar do encontro de reconstrução da secretaria municipal de São Paulo em 1997.

Foi neste espaço que dediquei a maior parte de minha militância, sob a liderança do companheiro Jaime Cabral, construímos uma exitosa experiência de construção da juventude partidária. Sem dúvida, exemplo de construção coletiva e participativa.

Foi ali, que fizemos a revista Rebele-se, construímos o Festival de Juventude Contra a Guerra do Iraque, onde realizamos diversos debates sobre o Brasil, a América Latina e o socialismo. E onde, principalmente, atraímos dezenas de jovens para uma visão de esquerda do mundo.

Me recordo dos debates contra a flexibilização dos direitos trabalhistas, tentada por FHC entre 1999 e 2000, que culminavam com ação política. No caso, uma série de colagens nos postes da cidade.

Em 2003, tive a oportunidade de passar a coordenar este trabalho ao lado de diversos e valorosos companheiros. Como secretário municipal da JPT da capital paulista, estabelecemos o desafio de buscar enraizar a JPT na cidade, interferir mais na construção das políticas públicas voltadas aos jovens e estabelecer maior diálogo com os movimentos juvenis. Com esta perspectiva que acompanhamos o Projeto Juventude (talvez até hoje o principal e mais participativo estudo sobre a juventude brasileira), que passamos a organizar alguns núcleos da JPT nos diretórios zonais e que participamos do Fórum Jovem organizado pela prefeitura.

A militância neste período foi muito intensa, fazíamos plenárias da JPT a cada quinze dias, com a participação de 30, 40 ou 50 jovens em média. Em momentos mais delicados, como da discussão da reforma da previdência, chegamos a reunir 150 militantes. A experiência da secretaria da capital paulista foi o que nos permitiu formular nossa visão de construção da juventude partidária.

Pude participar ainda, da organização do I Festival de Cultura e Arte da JPT, realizado em 2005, durante a gestão do companheiro Ramon Szermeta na secretaria estadual da JPT/SP. Iniciativa única na história da JPT, que reuniu mais de 2000 jovens petistas de todos os cantos de São Paulo, e ainda de alguns outros estados.

Foi em 2005 também, que lançamos a idéia de um congresso da Juventude do PT para discutir de forma mais profunda e com perspectiva estratégica o modelo organizativo da JPT e um programa político para a juventude brasileira. Chegamos inclusive a convocar a etapa paulista do encontro setorial daquele ano como 1º Congresso Estadual da JPT/SP.

Participamos ativamente da intervenção internacional da Juventude do PT, através da organização do GT de Relações Internacionais. A partir deste trabalho, que resultou na construção do Fórum de Juventudes Políticas do Mercosul e posteriormente os encontros de juventude do Foro de São Paulo, tivemos a oportunidade de conhecer inúmeros companheiros e amigos de diversos países e reforçar nossa identidade como militante latino americano.

A partir de 2007, passei a compor o Coletivo Nacional da JPT, como secretário-adjunto nacional, durante a gestão do companheiro Rafael Pops. Talvez tenha sido este o principal período de nossa atuação, que é marcado pela construção do I Congresso da JPT.

Participei ativamente desse processo, desde a defesa que ele acontecesse, passando aí pela negociação com as demais tendências e apresentando a proposta no Diretório Nacional do partido, até recebendo as atas, preparando listas para as etapas municipais e estaduais, mobilizando nossa militância e culminando com a candidatura à Secretaria Nacional.

O I Congresso é para mim, sem dúvida, o período mais intenso que a JPT já passou nos últimos anos. Com ele, a maior parte das correntes com atuação no setor, tiveram que se dedicar a formulação sobre como a juventude partidária deveria se organizar. Pela primeira vez, tivemos etapas municipais (idéia muito defendida por nós), o que permitiu triplicar a participação da base.

As resoluções do Congresso buscaram sintetizar o conjunto de contribuições. E idéias importantes, como a da autonomia política da JPT, foram aprovadas.

Ainda que estejamos muito distantes do que foi formulado naquele processo, a sinergia criada por ele, permitiu à atual direção de juventude, coordenada pela companheira Severine Macedo, realizar uma grande caravana nas eleições municipais de 2008, percorrendo milhares de quilômetros e dando visibilidade para a organização dos jovens petistas.
Como coordenador de comunicação, acompanhei estes últimos dois anos a construção da Juventude do PT. Dei minha última contribuição participando do Comitê Nacional de Juventude da Dilma.

Além da participação como militante e dirigente da Juventude do PT, dei minha contribuição, ao longo destes 13 anos, na “cara” que a JPT tem, ou seja, nas artes gráficas. A maior parte dos materiais produzidos pelas secretarias municipal e estadual de São Paulo, entre 1997 e 2005 e pela nacional a partir de 2006, tiveram suas artes feitas por mim, inclusive a página na internet.

A atual logomarca da JPT, com a bola vermelha e a estrela amarela riscada, fiz “sob encomenda” do Pops em 2006, num curto período no qual fui funcionário da SNJ. É verdade que ela é uma releitura de uma marca usada na época pela JPT gaúcha, mas a atual se popularizou a partir do momento em que disponibilizamos ela na Internet.

Em São Paulo, usávamos uma outra marca, que tinha a estrela do PT e a Graúna do Henfil. Essa foi criada em 2000, numa situação bastante curiosa. Estávamos fechando o panfleto de juventude da campanha que elegeu Marta Suplicy para a prefeitura, o material teria no verso a assinatura da JPT e da UJS (algo comum hoje em eleições, mas pouco usual, ou inédito, na época). Pois bem, os companheiros da UJS chegaram com a logo deles, estava super bem feita, foi aí que falamos que tínhamos que ter uma que estivesse a altura da dos camaradas. Foi então que Ramon sugeriu usarmos a Graúna e que produzi a marca que usamos durante anos.

Como a secretaria municipal de São Paulo foi uma das primeiras a manter uma página na Internet, disponibilizávamos esta marca e ela chegou a circular bastante no país, devo confessar que dava orgulho chegar num congresso da UNE ou em qualquer outra atividade nacional e ver uma camiseta com a marca da Graúna. Tinha também um pano de fundo, que era a disputa política que fazíamos naquele período, mas isso aí já é outra história…

Depois de 13 anos participando da Juventude do PT, entre muitas alegrias e algumas tristezas, resta uma certeza: Valeu a pena!

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Drummond, Neruda e a Batalha de Stalingrado




A saudação de dois dos maiores nomes da poesia latino americana e mundial, Pablo Neruda e Carlos Drummond de Andrade a um dos maiores feitos da Resistência no flanco leste da II Guerra Mundial, a Batalha de Stalingrado.

A cidade soviética comandou o ponto de virada da guerra contra os nazistas num enfrentamento que durou de 17 de julho de 1942 a 2 de fevereiro de 1943 e é considerada uma das batalhas mais sangrentas da humanidade.


Alguns tópicos históricos sobre a Batalha de Stalingrado
http://pt.wikipedia.org/wiki/Batalha_de_Stalingrado



http://www.youtube.com/watch?v=r9d8uz6jEng&feature=player_embedded

Carta a Stalingrado
*Carlos Drummond de Andrade



Stalingrado...
Depois de Madri e de Londres, ainda há grandes cidades!
O mundo não acabou, pois que entre as ruínas
outros homens surgem, a face negra de pó e de pólvora,
e o hálito selvagem da liberdade
dilata os seus peitos, Stalingrado,
seus peitos que estalam e caem,
enquanto outros, vingadores, se elevam.

A poesia fugiu dos livros, agora está nos jornais.
Os telegramas de Moscou repetem Homero.
Mas Homero é velho. Os telegramas cantam um mundo novo
que nós, na escuridão, ignorávamos.
Fomos encontrá-lo em ti, cidade destruída,
na paz de tuas ruas mortas mas não conformadas,
no teu arquejo de vida mais forte que o estouro das bombas,
na tua fria vontade de resistir.

Saber que resistes.
Que enquanto dormimos, comemos e trabalhamos, resistes.
Que quando abrimos o jornal pela manhã teu nome (em ouro oculto)
estará firme no alto da página.
Terá custado milhares de homens, tanques e aviões, mas valeu a pena.
Saber que vigias, Stalingrado,
sobre nossas cabeças, nossas prevenções e nossos confusos pensamentos distantes
dá um enorme alento à alma desesperada
e ao coração que duvida.

Stalingrado, miserável monte de escombros, entretanto resplandecente!
As belas cidades do mundo contemplam-te em pasmo e silêncio.
Débeis em face do teu pavoroso poder,
mesquinhas no seu esplendor de mármores salvos e rios não profanados,
as pobres e prudentes cidades, outrora gloriosas, entregues sem luta,
aprendem contigo o gesto de fogo.
Também elas podem esperar.

Stalingrado, quantas esperanças!
Que flores, que cristais e músicas o teu nome nos derrama!
Que felicidade brota de tuas casas!
De umas apenas resta a escada cheia de corpos;
de outras o cano de gás, a torneira, uma bacia de criança.
Não há mais livros para ler nem teatros funcionando nem trabalho nas fábricas,
todos morreram, estropiaram-se, os últimos defendem pedaços negros de parede,
mas a vida em ti é prodigiosa e pulula como insetos ao sol,
ó minha louca Stalingrado!

A tamanha distância procuro, indago, cheiro destroços sangrentos,
apalpo as formas desmanteladas de teu corpo,
caminho solitariamente em tuas ruas onde há mãos soltas e relógios partidos,
sinto-te como uma criatura humana, e que és tu, Stalingrado, senão isto?
Uma criatura que não quer morrer e combate,
contra o céu, a água, o metal, a criatura combate,
contra milhões de braços e engenhos mecânicos a criatura combate,
contra o frio, a fome, a noite, contra a morte a criatura combate,
e vence.

As cidades podem vencer, Stalingrado!
Penso na vitória das cidades, que por enquanto é apenas uma fumaça subindo do Volga.
Penso no colar de cidades, que se amarão e se defenderão contra tudo.
Em teu chão calcinado onde apodrecem cadáveres,
a grande Cidade de amanhã erguerá a sua Ordem.

[*] Extraído do livro A Rosa do Povo (poemas escritos entre 1943 e 1945). Rio de Janeiro: Record


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http://www.youtube.com/watch?v=xL96oqDz4B0&feature=related
Nuevo Canto de Amor a Stalingrado
*Pablo Neruda

Yo escribí sobre el tiempo y sobre el agua,
describí el luto y su metal morado,
yo escribí sobre el cielo y la manzana,
ahora escribo sobre Stalingrado.

Ya la novia guardó con su pañuelo
el rayo de mi amor enamorado,
ahora mi corazón está en el suelo,
en el humo y la luz de Stalingrado.

Yo toqué con mis manos la camisa
del crepúsculo azul y derrotado:
ahora toco el alba de la vida
naciendo con el sol de Stalingrado.

Yo sé que el viejo joven transitorio
de pluma, como un cisne encuadernado,
desencuaderna su dolor notorio
por mi grito de amor a Stalingrado.

Yo pongo el alma mía donde quiero.
Y no me nutro de papel cansado
adobado de tinta y de tintero.
Nací para cantar a Stalingrado.

Mi voz estuvo con tus grandes muertos
contra tus propios muros machacados,
mi voz sonó como campana y viento
mirándote morir, Stalingrado.

Ahora americanos combatientes
blancos y oscuros como los granados,
matan en el desierto a la serpiente.
Ya no estás sola, Stalingtado.

Francia vuelve a las viejas barricadas
con pabellón de furia enarbolado
sobre las lágrimas recién secadas.
Ya no estás sola, Stalingrado.

Y los grandes leones de Inglaterra
volando sobre el mar huracanado
clavan las garras en la parda tierra.
Ya no estás sola, Stalingrado.

Hoy bajo tus montañas de escarmiento
no sólo están los tuyos enterrados:
temblando está la carne de los muertos
que tocaron tu frente, Stalingrado.

Tu acero azul de orgullo construido,
tu pelo de planetas coronados,
tu baluarte de panes divididos,
tu frontera sombría, Stalingrado

Tu Patria de martillos y laureles,
la sangre sobre tu esplendor nevado,
la mirada de Stalin a la nieve
tejida con tu sangre, Stalingrado.

Las condecoraciones que tus muertos
han puesto sobre el pecho traspasado
de la tierra, y el estremecimiento
de la muerte y la vida, Stalingrado

La sal profunda que de nuevo traes
al corazón del hombre acongojado
con la rama de rojos capitanes
salidos de tu sangre, Stalingrado.

La esperanza que rompe en los jardines
como la flor del árbol esperado,
la página grabada de fusiles,
las letras de la luz, Stalingrado.

La torre que concibes en la altura,
los altares de piedra ensangrentados,
los defensores de tu edad madura,
los hijos de tu piel, Stalingrado.

Las águilas ardientes de tus piedras,
los metales por tu alma amamantados,
los adioses de lágrimas inmensas
y las olas de amor, Stalingrado.

Los huesos de asesinos malheridos,
los invasores párpados cerrados,
y los conquistadores fugitivos
detrás de tu centella, Stalingrado.

Los que humillaron la curva del Arco
y las aguas del Sena han taladrado
con el consentimiento del esclavo,
se detuvieron en Stalingrado.

Los que Praga la Bella sobre lágrimas,
sobre lo enmudecido y traicionado,
pasaron pisoteando sus heridas,
murieron en Stalingrado.

Los que en la gruta griega han escupido,
la estalactita de cristal truncado
y su clásico azul enrarecido,
ahora dónde están, Stalingrado?

Los que España quemaron y rompieron
dejando el corazón encadenado
de esa madre de encinos y guerreros,
se pudren a tus pies, Stalingrado.

Los que en Holanda, tulipanes y agua
salpicaron de lodo ensangrentado
y esparcieron el látigo y la espada,
ahora duermen en Stalingrado.

Los que en la noche blanca de Noruega
con un aullido de chacal soltado
quemaron esa helada primavera,
enmudecieron en Stalingrado.

Honor a ti por lo que el aire trae,
lo que se ha de cantar y lo cantado,
honor para tus madres y tus hijos
y tus nietos, Stalingrado.

Honor al combatiente de la bruma,
honor al Comisario y al soldado,
honor al cielo detrás de tu luna,
honor al sol de Stalingrado.

Guárdame un trozo de violenta espuma,
guárdame un rifle, guárdame un arado,
y que lo pongan en mi sepultura
con una espiga roja de tu estado,
para que sepan, si hay alguna duda,
que he muerto amándote y que me has amado,
y si no he combatido en tu cintura
dejo en tu honor esta granada oscura,
este canto de amor a Stalingrado.

(México, febrero de 1943. Terceira Residência, 1947)

Novo Canto de Amor a Stalingrado
*Pabo Neruda

Escrevi sobre a água e sobre o tempo,
descrevi o luto e seu metal acobreado,
escrevi sobre o céu e a maçã,
agora escrevo sobre Stalingrado.

A noiva já guarda no seu lenço
raios de meu amor enamorado,
meu coração agora está no solo,
na fumaça e na luz de Stalingrado.

Já toquei com as mãos a camisa
do crepúsculo azul e derrotado:
agora toco a própria luz da vida
nascendo com o sol de Stalingrado.

Sinto que o velho-jovem transitório
de pluma, como os cisnes adornado,
despe a roupagem de seu mal notório
por meu grito de amor a Stalingrado.

Ponho minh`alma onde quero.
E não me nutro de papel cansado
temperado de tinta e de tinteiro.
Nasci para cantar a Stalingrado.

Minha voz esteve com teus inúmeros mortos
contra teus próprios muros esmagados,
minha voz soou como o sino e o vento
vendo-te morrer, Stalingrado.

Agora americanos combatentes
brancos e escuros como a romã,
matam no deserto a serpente.
Já não estás a sós, Stalingrado.

França volta às velhas barricadas
com pavilhão de fúria hasteado
sobre as lágrimas recém derramadas.
Já não estás a sós, Stalingrado.

E os grandes leões da Inglaterra
voando sobre o mar de furacões
cravam as garras na parda terra.
Já não estás a sós, Stalingrado.

Hoje abaixo de suas montanhas de escarmento
não estão apenas os teus enterrados:
tremendo está a carne de teus mortos
que tocaram tua frente, Stalingrado.

Teu aço azul de orgulho construído,
seu cabelo de planetas coroados,
teu baluarte de pães divididos,
tua fronteira sombria, Stalingrado.

Tua Pátria de louros e martírios,
o sangue no teu esplendor nevado,
o olhar de Stalin sobre a neve
tingida com teu sangue, Stalingrado.

As condecorações que teus mortos
colocaram sobre o peito transpassado
da terra, o estremecimento
da morte e da vida, Stalingrado.

O sal profundo que de novo traz
ao coração do homem estremecido
com a rama de vermelhos capitães
saídos de teu sangue, Stalingrado.

A esperança que se rompe em seus jardins
como a flor da árvore esperada,
a página gravada de fuzis,
as letras de sua luz, Stalingrado.

A torre que concebes nas alturas,
os altares de pedra ensanguentados,
os defensores de tua idade madura,
os filhos de tua pele, Stalingrado.

As águias ardentes de tuas pedras,
os metais por tua alma amamentados,
os adeus de lágrimas imensas
e as ondas de amor, Stalingrado.

Os ossos dos assassinos feridos,
os invasores de pálpebras fechadas
e os conquistadores fugitivos
atrás de sua centelha, Stalingrado.

Os que humilharam a curva do Arco
e as águas do Sena transpuseram
com o consentimento do escravo,
se detiveram em Stalingrado.

Os que a bela Praga sobre lágrimas,
sobre o emudecido e o traído,
passaram pisoteando suas feridas,
morreram em Stalingrado.

Os que na gruta grega esculpiram
a estalactite de cristal quebrado
em seu clássico azul escasso,
agora onde estão, Stalingrado?

Os que a Espanha incediaram e dividiram
deixando o coração encarcerado
dessa mãe de ensinos e guerreiros,
se puseram a seus pés, Stalingrado.

Os que na Holanda, água e tulipas
salpicaram no lodo ensanguentado
e derramaram o açoite e a espada,
agora dormem em Stalingrado.

Os que na branca noite da Noruega
Um uivo de chacal soltaram
incendiando esta gelada primavera,
emudeceram em Stalingrado.

Honra a ti pelo que o ar traz,
o que se há de cantar e o cantado,
honra por tuas mães e teus filhos
e teus netos, Stalingrado.
Honra ao combatente da névoa,
honra ao comissário e ao soldado,
honra ao céu por traz da tua lua,
honra ao sol de Stalingrado.

Guarda-me um pedaço de violenta espuma,
guarda-me um rifle, guarda-me um arado,
e que o coloquem em minha sepultura
com uma espiga vermelha de teu estado,
para que saibam, se há alguma dúvida,
que morri amando-te e que me tens amado,
e se não estive combatendo em tua cintura
deixo em tua honra esta granada escura,
este canto de amor a Stalingrado.

domingo, 19 de setembro de 2010

Babel, por Brueghel e Robert Crumb





Passagem no "Genesis", de Robert Crumb (2009)














"Torre de Babel", Pieter Brueghel (1563)

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Avanços tecnológicos e algumas mudanças na educação.

Companheiros/as, posto artigo enviado ao blog do meu companheiro e amigo Serginho, do Mato Grosso do Sul, sobre os impactos e avanços da cultura digital no ambiente escolar e a premente necessidade de nos apropriarmos desse debate.



Muitas Escolas (na maioria pertencentes à rede particular) estão buscando tornar suas aulas mais dinâmicas, utilizando recursos tecnológicos de diversos tipos. Este não é um objetivo apenas da escola, esta demanda também parte dos próprios estudantes, uma geração cada vez mais multifuncional.

Estes jovens nasceram com um nível maior ou menor de acesso a internet e desenvolveram capacidades cognitivas diferentes das outras gerações.

Não é difícil hoje em dia, observamos jovens que estão com a TV ligada, usando várias abas de internet, jogando, pesquisando, vendo e produzindo vídeos, falando com 10 pessoas ao mesmo tempo no MSN, etc. Uma geração com capacidade multitarefa muito grande.
Tanto professores como estudantes vivem um momento de transição e os recursos digitais disponíveis hoje, ainda não foram totalmente explorados em suas enormes possibilidades.

Os avanços em tecnologia estão mudando o jeito de aprender dentro (e fora) das salas de aula. A experiência de investimentos de diversas escolas demonstra que há mais benefícios do que riscos nessa área.

Uma das alternativas buscadas pelas instituições é a distribuição de um computador para cada estudante. As escolhas vão de netbook´s aos Macbook´s que, entre outras coisas, permitem a utilização de podcasts e videocasts que substituem os trabalhos por escrito.

Pesquisas experimentais indicam que os novos recursos aumentam o interesse dos estudantes, suas ações colaborativas, a autoestima e seu papel como ator na produção do conhecimento.

O uso da web permite mudanças em velocidades gigantescas. Em determinadas escolas, é possível que o estudante acompanhe e participe da aula, mesmo estando em outra cidade pelo recurso streaming de vídeo. Estes instrumentos não diminuem a importância dos professores. Eles colaboram com suas atividades e ampliam a necessidade de dominar bem o conteúdo.

O uso da internet e de outras ferramentas tecnológicas tem mudado a relação professor aluno. Como por exemplo, o uso do Google, que permite aos estudantes acessar milhares de conteúdos, incentivando os professores a cada vez mais dominarem os assuntos da sala de aula.

Não é difícil observar atividades em que os estudantes descobrem novas formas de usar recursos digitais antes dos professores, como o uso de computadores em salas de tecnologia.

Em alguns casos, o uso dos laptops trouxe a redução do número de faltas, além da diminuição da evasão escolar. Aumentou também o interesse dos estudantes e sua autoestima.

Os estudantes percebem uma maior participação na construção do conhecimento, utilizando recursos que combinam com as características de sua geração multitarefa.

Testes experimentais com recursos digitais, realizados em algumas universidades, demonstram impressionante aumento da capacidade de atenção dos estudantes. Esses tipos de inovações mudaram inclusive o jeito de preparar aula, permitindo aos professores apresentar maior volume de conteúdo em menos tempo.

O uso de computadores tem contribuído para mudar a cultura da escola. Os recursos digitais podem ajudar na aprendizagem e no desenvolvimento de habilidades e competências de uma sociedade que exigirá muito do futuro “cidadão digital”.

Pesquisas mostram que, em sua maioria, os jovens acreditam que a escola é um grande instrumento que pode ajudá-los a ter ascensão social. Mas 80% deles acreditam que não é essa escola que conhecemos. Há muito que ela não consegue motivar os estudantes e dar sentido às suas experiências.

Este novo ambiente que sem sendo construído, permite uma maior aproximação dos anseios da juventude com a escola e o anseio de professores em tornar suas aulas mais atrativas e participativas. Permite a ampliação da discussão institucional sobre a educação pública e privada oferecida no país, bem como a discussão da criação de um novo conceito de escola.

Especialistas em educação avaliam que ainda assim, na maioria das escolas, onde as novas tecnologias digitais são empregadas, permanece a segmentação do ensino, a linearidade dos conteúdos das disciplinas curriculares e a fragmentação do conhecimento.

Essas inovações abriram uma série de discussões sobre o papel da escola e seu modelo. Nesse novo ambiente, @s professores poderiam ter mais autonomia para experimentarem mais, sem medo de errar.

Os estudantes poderiam ser considerados produtores de conhecimento (pra valer), pelos professores, pela escola e ter papel mais ativo neste processo. E assim a sala de aula poderá ser o que decidirmos fazer dela.

Apropriar-se da cultura digital também é reiventar a escola.

Serginho
www.twitter.com/serginho_ms

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Vida segura e saudável: direito dos jovens, dever do Estado

Compartilho o artigo do meu grande amigo e camarada Rodrigo Cesar sobre as políticas públicas de saúde e segurança voltadas aos jovens.




Por Rodrigo Cesar

Ainda que para a maioria das pessoas a preocupação frente à ameaça às suas vidas não seja recorrente, ela é a mais elementar. O direito a uma vida segura e saudável deve ser encarado como questão primordial de qualquer sociedade que pretenda conviver em paz, desenvolver suas potencialidades criativas e usufruir democraticamente da riqueza material e imaterial que produz.

Um país que pretende proporcionar oportunidades iguais a seus cidadãos deve, inicialmente, promover a igualdade de condições de saúde e segurança. Sendo ausentes as condições para viver com saúde e constantes as ameaças à vida, o desenvolvimento material e intelectual desaparece do horizonte dos indivíduos e compromete o presente e o futuro de uma sociedade.

Aparentemente, um dos momentos mais propícios do ciclo vital para usufruir de boa saúde é a juventude. No Brasil, contudo, sendo o índice de mortalidade e violência maior entre os jovens, o paradigma se inverte. As mortes associadas à causas externas, que envolvem diversas formas de ameaças, sobretudo homicídios e acidentes de trânsito, são a expressão mais extrema do problema, contribuindo para esta triste realidade e permitindo afirmar que está em curso um verdadeiro genocídio da juventude brasileira.

Mas ainda que a letalidade dos incidentes indique a gravidade da situação, outras modalidades de violência – como a discriminação, o abuso sexual, as lesões corporais, os assaltos, entre outros – acometem um contingente ainda maior de jovens e também comprometem suas vidas.

Manter os jovens sob o olhar da desconfiança, da suspeita e da criminalização tem sido a principal resposta da sociedade diante deste quadro. Contudo, mesmo cientes de que os jovens estão envolvidos também como os principais agressores, ao invés de tratar da juventude como fator de risco, é preciso considerar os fatores de risco, exposição e vulnerabilidade que os jovens sofrem hoje.

Assim, não se trata, simplesmente, de evitar o envolvimento dos jovens com a criminalidade ou a participação em ações violentas. A questão principal é mudar o ambiente no qual os jovens estão inseridos, fazendo com que a criminalidade e a violência não se apresente como uma alternativa para a conquista do reconhecimento e da autonomia, tão importantes principalmente para as pessoas que estão nesta fase da vida.

Como já se disse, todos os jovens vivem a juventude, mas cada um à sua maneira. Portanto, ao mesmo tempo em que a condição juvenil é compartilhada por todos os jovens, existem diferenças significativas no modo como cada um constrói sua trajetória. No Brasil, para a maioria dos jovens, os processos de busca, aprendizado e experiências não consegue seguir o curso dos desejos, interesses e potencialidades pessoais. Diante da falta de oportunidades para planejar e desenvolver projetos de vida, é comum que o desânimo e o pessimismo tomem conta dos horizontes de parcela expressiva da juventude.

Os jovens, principais interessados hoje e amanhã na solução de suas necessidades imediatas e estratégicas, devem ter garantidas as condições de traçar horizontes e pensar na construção do futuro a partir de iniciativas no presente. É preciso, portanto, proporcionar a vivência da juventude com a possibilidade de escolha e experimentação, permitir que a curiosidade construa aprendizados e se torne instrumento fundamental para entrar em contato com as novidades diante das quais os jovens se deparam, formulam suas dúvidas e buscam suas respostas.

Porém, criar as condições para o surgimento deste processo, que contribui no desenvolvimento integral do jovem, tem sido um privilégio das famílias mais abastadas. São casos em que a juventude é vivida com menos exposição à fatores de risco e vulnerabilidade e com mais oportunidades de escolarização contínua e acesso ao trabalho decente.

Em relação aos jovens brasileiros, o principal desafio dos próximos anos é proporcionar condições seguras para que a experimentação, o acerto e o erro não signifiquem pôr em risco sua saúde e sua vida, seu presente e seu futuro. Este objetivo que só poderá ser alcançado caso o direito à vida segura e saudável for assegurado como responsabilidade do Estado e como princípio básico e elementar para que a igualdade de oportunidades possa se tornar uma realidade, não mera retórica.

Para tanto, a participação consciente, organizada e mobilizada do conjunto da população é mais que necessária: é imprescindível. Vivemos atualmente um momento oportuno para que os trabalhadores e as trabalhadoras construam suas próprias ferramentas e as condições para assumir o comando dos rumos do país. Na luta pela vida e pela paz, é por este caminho que seguiremos.

* Rodrigo Cesar é estagiário da Fundação Perseu Abramo e estudante de história da Universidade Federal de São Paulo – Unifesp.

Leia também:

- Pesquisa: Juventude e cidadania (1999) - Realizada pelo Núcleo de Opinião Pública da Fundação Perseu Abramo

- Livro: Retratos da juventude brasileira: Análises de uma pesquisa nacional. Organizado por Pedro Paulo Martoni Branco e Helena Wendel Abramo. (Editado pela EFPA)

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Declaração do Encontro de Juventudes do Foro de São Paulo


II Encuentro de las Juventudes en el marco del XVI Foro de Sao Paulo, realizado en la Ciudad de Buenos Aires los días 17-20 de Agosto de 2010


Declaración Final

En el momento actual de crisis que vive el capitalismo, los jóvenes somos testigos del aumento vertiginoso del desempleo, la quiebra de empresas y el incremento de la deuda. El sistema imperial, basura de la especulación financiera generalizada, ha hecho saltar por los aires el empleo y la estabilidad macroeconómica, ya de por sí precarios en los últimos años. El modelo económico que ha prevalecido es incompatible con los intereses de la humanidad, por lo que debe cesar. El capitalismo no sirve ni como instrumento. Es como un árbol con raíces podridas, del que sólo brotan las peores calamidades para la especie humana: miseria, hambre, destrucción medio ambiental, individualismo, corrupción y desigualdad.

En nuestra América Latina y el Caribe continúa agudizándose el enfrentamiento entre dos fuerzas históricas. De un lado, un sistema económico dependiente, elitista y explotador, heredero del colonialismo y del neocolonialismo, subordinado a los intereses del imperio. Del lado opuesto, el avance de las fuerzas políticas revolucionarias y progresistas que representan a las clases tradicionalmente desposeídas y discriminadas; comprometidas con la justicia social, con la verdadera independencia y unión de los pueblos de la región y con la aspiración de distribuir justamente las inmensas riquezas del continente. Se trata en esencia de la lucha histórica para concretizar la realización de la visión de una América Latina Unida, solidaria con todos los pueblos, presente en la lucha bolivariana, martiana y Sanmartiniana, procesos de Nuestra América que luchan en contra del afán demencial de la hegemonía imperial de Estados Unidos y Europa.

Los jóvenes de estos tiempos continuamos siendo los más afectados por la crisis; nos duele ver que en el continente millones de ellos no pudieron siquiera aprender a leer y escribir, o permanecen como semianalfabetos, o simplemente no poseen trabajo e ignoran todo lo que se refiere a los derechos propios del ser humano. Nuestros pueblos han acumulado la experiencia histórica de la explotación y el subdesarrollo expresado en la desigualdad del ingreso, injusticia social, hambre, precariedad en la atención de salud, sobre-explotación de los recursos naturales y las consecuencias de insuficiente infraestructura económica y social, que se añade la abusiva carga del servicio de la deuda externa, el cuadro nefasto que suponen la criminalidad, el narcotráfico y el deterioro del medio ambiente.

El camino recorrido hasta aquí ha sido largo y difícil, es por ello que nos convoca hoy el ejemplo de todos los jóvenes latinoamericanos que ofrendaron sus vidas y a los que aún permanecen desaparecidos por haber cometido el único “delito” de luchar por un mundo de justicia social y paz. Los jóvenes somos la vanguardia, el momento que vivimos es claramente propicio para que la juventud latinoamericana se proponga nuevos paradigmas de unidad e integración juvenil en la región, que rebasen nuestras diferencias, favorezcan nuestra unión de intereses y necesidades, promuevan la acción solidaria y amplíen la cooperación y la unidad de la juventud latinoamericana. El reto principal resulta pasar paulatinamente de la palabra a los hechos. Nuestras diferencias no deben privarnos de trabajar por nuestra unidad, reconociendo y respetando nuestra diversidad, para hacer realidad los justos anhelos de la gran mayoría de los Pueblos de Nuestra América. Para ello, será imprescindible el protagonismo de los jóvenes en la solución de las complejidades actuales.

Apoyamos las iniciativas que proponen nuevas formas de integración y unión con un formidable renacer del espíritu de nuestros pueblos, con el surgimiento de una pujante fuerza ciudadana dispuesta a asumir los destinos de los respectivos países, para hacer valer la prioridad que merecen los programas sociales, defender las riquezas nacionales y la lucha por la justicia.

Los jóvenes participantes del II Encuentro Juvenil en el marco del XVI Foro de Sao Paulo luchamos por la Paz en nuestra región, a través de la coexistencia pacífica y la promoción de la multilateralidad como única vía de construir un mundo pluripolar. Apoyamos a la juventud y al pueblo colombiano por la búsqueda de una solución política negociada al conflicto politico, social y armado que lo desangra desde décadas, por voluntad de la rapaz oligarquía de ese país. Igualmente condenamos el peligro inminente de una guerra nuclear en Irán y Corea del Norte, que provocaría efectos devastadores en todo el mundo.

Estamos convencidos de la responsabilidad que tenemos por concientizar de una manera colectiva y dialógica a la juventud latinoamericana y caribeña en la lucha por la supervivencia de la especie humana, en contra de la despiadada devastación de nuestro medio ambiente causada por el capitalismo salvaje que destruye nuestro hábitat para satisfacer los gustos de los ricos.

Consideramos que la educación debe contribuir a la liberación de nuestros pueblos, por tanto asumimos el compromiso de defender la educación pública, gratuita y con pleno acceso para todos, de luchar porque no existan jóvenes excluidos de las universidades, porque se amplíe el presupuesto destinado a la educación y porque la orientación de los sistemas educativos nacionales formen generaciones de latinoamericanos comprometidos con las luchas de sus pueblos.

Rechazamos la acciones desestabilizadoras del imperialismo norteamericano, su injerencia militar en la región, que apunta contra la Revolución Bolivariana de Venezuela, los procesos en Ecuador y Bolivia y la Revolucion Sandinista de Nicaragua, con el pretexto de combatir el narcotrafico. Condenamos la reactivación de la cuarta flota, la instalación de 7 bases militares en Colombia, la violación recurrente del espacio aéreo venezolano por parte de aeronaves pertenecientes a las bases yankees apostadas en Aruba y Curacao, el golpe de estado en Honduras y el reconocimiento de un gobierno surgido de un proceso ilegitimo, el desembarco de tropas y navios de guerras en Costa Rica, Haití y la instalación de bases aereonabales en Panamá, cuya intención es concretizar su doctrina político militar de ocupar y dominar a cualquier precio el territorio que siempre consideraron como su traspatio natural, que nos demuestra que para lograr sus objetivos, no tendrán limites, excepto el que le imponga la resistencia que seamos capaces de ofrecerles.

Condenamos el injusto bloqueo impuesto al pueblo cubano por el gobierno de Estados Unidos hace ya más de 50 años, violando el derecho internacional, y exigimos la inmediata liberación de los Cinco Héroes Cubanos, que se encuentran injustamente encarcelados en prisiones de Estado Unidos, por luchar en contra del terrorismo. Reiteramos nuestro respaldo al proceso de cambios que se viene produciendo en nuestra región encabezados por las fuerzas de izquierda y progresistas que gobiernan en Argentina, Bolivia, Brasil, Cuba, Ecuador, El Salvador, Nicaragua, Paraguay, Venezuela y Uruguay. Saludamos al Heroico Frente Farabundo Marti para la Liberacion Nacional FMLN de El Salvador por celebrar el proximo Octubre su 30 Aniversario de Lucha. Reconocemos y saludamos los esfuerzos de las fuerzas progresistas y de izquierda en el resto de países de America Latina, quienes vienen haciendo tenaz oposición a gobiernos de corte neoliberal.

Apoyamos las fuerzas que hoy en Brasil, en el marco del proceso electoral, luchan por profundizar un proyecto de desarrollo más democrático y participativo. Estamos conscientes de los avances que se han producido en la derecha en la región, que tienen hoy su máxima expresión en los gobiernos de Chile, Panamá, Colombia, Perú y México, los que criminalizan la protesta social y promueven el asesinato de dirigentes sociales y populares, condenamos enérgicamente la políticas represivas que estos implementan en contra de sus pueblos.

Rechazamos los intentos del gobierno de Sebastián Piñera, que a traves de los dichos y acusaciones del ministro del interior contra el Partido Comunista, buscan como objetivo reprimir y poner al margen de ley a este partido. Asi tambien, apoyamos la lucha del Pueblo Mapuche en Chile que hoy está siendo perseguido y juzgado con la aplicación de una ley antiterrorista que busca terminar con la organización de una nación que exige su reconocimiento como pueblo originario. De igual manera, condenamos le política represiva y autoritaria que ha implementado el gobierno de Alan García en Perú, el cual busca asociar a las fuerzas de izquierda y del cambio con organizaciones terroristas. Manifestamos nuestra solidaridad y compromiso militante con los pueblos andinos y amazónicos a quienes pretenden despojarles de sus tierras ancestrales para beneficiar a las trasnacionales.

Condenamos el ataque internacional que de manera coordinada se ha llevado a cabo en contra de la Revolución Bolivariana que comanda el Presidente Hugo Chávez en el contexto de las elecciones parlamentarias que el próximo mes se llevarán a cabo en ese país y apoyamos decididamente los cambios estructurales que han permitido elevar los niveles de vida y la inclusión y justicia social en Venezuela.

Exigimos un trato humanitario digno y con respeto a las leyes internacionales que protegen a los inmigrantes y rechazamos el trato discriminatorio a nuestro hermanos inmigrantes latinoamericanos a los que se les violentan los más elementales derechos humanos. Rechazamos categóricamente leyes xenofóbicas como la SB1070 de Arizona que alientan la política de odio hacia los migrantes latinoamericanos y expresamos nuestra más amplia solidaridad hacia con ellas y ellos.

Nos solidarizamos con el heróico pueblo de Puerto Rico en su derecho a la autodeterminacion y lucha por la independencia, y exigimos la excarcelación inmediata e incondicional de sus patriotas presos en cárceles estadounidenses. Igualmente, lamentamos el fallecimiento de la heroína nacional Lolita Lebron, quien también fuese prisionera política, y saludamos la reciente liberación de Carlos Alberto Torres, tras 30 años de cárcel en las prisiones norteamericanas. Respaldamos la lucha de nuestros hermanos del Frente Nacional de Resistencia Popular de Honduras por restablecer la democracia constitucional y por el derecho a construir una sociedad justa. Reconocemos como unico y legitimo presidente de la Republica de Honduras a Manuel Zelaya.

En el marco de la lucha internacional que vive la juventud progresista, apoyamos iniciativas como la convocatoria realizada por la Federación Mundial de Juventudes Democráticas a las juventudes progresistas y antimperialistas del mundo a participar del XVII Festival Mundial de la Juventud y Estudiantes en Sudáfrica en diciembre de este año, para unirnos en la lucha mundial en contra del imperialismo y construir un mundo mejor.

Convocamos al III Encuentro de las Juventudes del Foro de Sao Paulo, que se realizará el próximo año en Managua, Nicaragua, en saludo a la celebración del 50 aniversario de la fundación del Frente Sandinista de Liberación Nacional.

Con esta declaración queremos compartir con el mundo nuestra conviccion y compromiso de continuar asumiendo el rol de vanguardia, guiados por el ejemplo de nuestros héroes y mártires en su lucha por una latinoamérica unida en su diversidad y un mundo mejor, que sólo sera posible con la construcción del socialismo.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Momento Chaplin: "O Grande Ditador" (1940)


Posto abaixo o link de um trecho do filme "O Grande Ditador" do genial Charles Chaplin (1889/1977) que, a meu ver, é um dos discursos mais bonitos interpretados no cinema.

Exibido em 1940, "O Grande Ditador" é o primeiro filme falado de Chaplin e satiriza com contundência o processo totalitário em curso na Alemanha Nazista e Itália Fascista. Dotado de um sincero humanismo, a película também seria usada pelo macarthismo estadunidense para reforçar as acusações - negadas por Chaplin - de ligação do cineasta com o comunismo.

Vale a pena ver o filme! Uma mensagem que, infelizmente, continua muito atual...


sexta-feira, 16 de julho de 2010

Que venha a próxima Copa!



Arrisco a me incluir entre os brasileiros apaixonados pelo futebol. Não dos fanáticos, que começam a ler o jornal pelo caderno de esportes ou que trocam qualquer compromisso pela transmissão do jogo de domingo, mas dos que ainda se surpreendem com a força desse esporte manejado por pés (!) ao assistir eventos como a Copa do Mundo na África.


Quando guri, estava entre os que estropiava os dedos em terrenos baldios atrás de “dentes de leite” e que, arriscando alguns chutes e passes em pequenos torneios, via nas diferentes chuteiras dos meninos essa capacidade às vezes silenciosa do futebol em diluir e ao mesmo tempo realçar as diferenças sociais entre os nossos.


Em minha memória, entre recordações desorganizadas, a vitoriosa Copa de 1994 se destaca. Para alguns, era a volta por cima, vinte e quatro anos depois do tricampeonato, da seleção brasileira ao seu suposto lugar de direito depois de frustradas tentativas, como a da bela seleção dirigida por Telê Santana em 1982. Para outros, aquela comoção e envolvimento era algo novo e encantador, renovando em muitas infâncias o acalentado sonho de ser jogador de futebol ou a paixão pelo esporte divulgado no Brasil por Charles Miller. Daquele Tetra, guardaria mais lembranças do que dos três campeonatos seguintes, já que Ronaldos e Rivaldos seriam incapazes de renovar a empolgação de outrora. Poderia recordar a escalação da Copa nos EUA, mas dificilmente o faria com o mesmo nível de detalhe em relação à 1998, 2002 e 2006, seleção do penta incluída.


Meio desligado com o que acontecia no mundo da bola, cheguei a esta Copa de 2010 com a mesma conversa fiada de muitos de que “a Copa tá desanimada” e de que não ia me “engajar” em acompanhá-la. A propósito, engajar é um termo bem adequado à relação de muitos brasileiros com o futebol. Brigamos, debatemos, choramos, sorrimos, levantamos dados, enfim, dedicamos uma parte importante de nosso tempo e atenção a um esporte que é compreensivelmente chamado de paixão nacional. Porque em Pindorama é assim: qualquer um se arrisca a palpitar sobre futebol. Não precisa entender, saber como são marcados os impedimentos ou quantos jogadores podem ser substituídos a cada jogo. Falar de futebol é admitido a qualquer um (hábito democrático que não deveria anistiar as banalidades e o lugar comum dos “comentaristas profissionais”, aceitos sem muita contestação).


Nesta Copa, não demorou muito para a realidade contestar o desânimo anunciado. Em um piscar de olhos surgiram carros pintados, bandeiras nas janelas e camisas da seleção canarinho vendidas aos montes nas ruas. Para alguns, inclusive, a Copa começaria antes, com o anúncio da convocação feita por Dunga para o mundial. As críticas, é claro, foram centradas na ausência de atletas que na época estavam jogando bem, a exemplo de Neymar, Ganso, entre outros. Firula, a meu ver, um pouco exagerada porque mesmo com essas frustrações pontuais e a ênfase defensiva do nosso time, deveríamos reconhecer que não estamos mais tão bem servidos de alternativas como antes.


A seleção dos “comportados” de Dunga tampouco era uma seleção ruim. Na verdade, tinha a cara do seu treinador, ex-volante e técnico vitorioso, que não joga para a torcida, mas dispunha de um currículo respeitável de títulos e vitórias recentes. Mesmo ignorando a tradição do nosso jogo bonito, o fato é que dentro de um quadro de mediocridade quase generalizada, nossa seleção era até capaz de ganhar esta Copa. Um sinal revelador desses novos tempos, em que o melhor jogador do Brasil foi um zagueiro e não um atacante. Grande Lúcio!


Talvez seja por este realismo que, mesmo não estando entre os maiores admiradores do técnico brasileiro, não me incluí na frente anti-Dunga, que ia desde os santuaristas do “futebol arte” até setores expressivos da grande mídia, como a Rede Globo. Só não imaginava que este conflito provocaria alguns dos melhores momentos da Copa, como o sonoro e global (literalmente) “Cala a Boca Galvão” e as revelações trazidas à tona sobre os bastidores da cobertura jornalística do campeonato.


A briga de Dunga com a Globo, sobretudo no que toca a sua resistência em dar a tradicional e, registre-se, negociada exclusividade à emissora carioca deu muito pano pra manga. Barrada na porta da concentração, uma irritadiça Fátima Bernardes receberia tratamento bem diferente daquele dado em outras Copas, quando sua presença constante dentro do ônibus da seleção e nas dependências dos alojamentos dos jogadores era parte de um lucrativo jogo combinado com o presidente CBF, Ricardo Teixeira.


A estocada de Dunga em um dos repórteres da emissora numa coletiva de imprensa e o pito ao treinador tentado pelo Fantástico seriam respondidos por milhares de internautas com mais um “cala boca” virtual (agora ao apresentador Tadeu Schmidt, que tomou as dores da empresa no horário nobre de domingo) e o lançamento, no dia seguinte, de uma campanha de boicote às transmissões do maior grupo de comunicação do país. Essa mobilização espontânea de vários torcedores pode até não ter gerado perdas substanciais de audiência, mas o #diasemglobo provocou um debate importante sobre a decadência de uma emissora que não mede esforços para impor seus interesses econômicos acima de uma cobertura jornalística plural e de qualidade.


E assim continuaria, acompanhando pela tela de outras emissoras e pela internet, os momentos finais da primeira Copa realizada em solo africano. África, inclusive, da qual falamos pouco durante essas semanas, como se fosse possível esconder pelos milhões em patrocínios e os belos estádios que receberam o Mundial, as mazelas sociais que foram historicamente impostas aos povos deste continente irmão.


Com a precoce eliminação do Brasil, ainda torceria sem sucesso para Gana, Argentina, Paraguai e a “Celeste” uruguaia. Especialmente por torcer pelos argentinos, ouviria muitas piadas e contestações. Mas que culpa eu tenho por não concordar com esse preconceito ridículo que é estimulado pelos meios de comunicação e extrapola a razoabilidade de uma rivalidade esportiva, não raro flertando com preconceitos dos mais reacionários contra nossos vizinhos?


Tanto menos teria por admirar Maradona, não só pelas suas posições progressistas, como a reiterada solidariedade à Revolução Cubana ou à luta das Mães da Praça de Maio, para ficar em apenas dois exemplos, mas sobretudo pela força moral e espírito de equipe que o tornava quase um 12º jogador da seleção portenha. Dentro de campo, o ex-camisa 10 argentino pode até não ter superado Pelé ou mesmo nosso Garrincha, mas hoje, enquanto um anódino Edison Arantes faz comercial de qualquer coisa que aparece, “dom Diego” tem ajudado a retomar as melhores tradições de um futebol ousado, ofensivo e com muitos gols (ainda que insuficiente para resistir ao trator alemão nas quartas de final).


No fim, para quem tinha expectativa de ver uma mini-edição da “Copa América” ou times africanos jogando bem como nos mundiais sub-20 e Olimpíadas, ficou a frustração de ver uma final européia entre Holanda e Espanha, vencida por merecimento por esta última. E foi no vácuo de um futebol pouco vistoso que outros personagens acabaram roubando a cena, seja a serelepe bola Jabulani, o pé frio de Mick Jagger ou o vidente polvo Paul.


Mal nos despedimos da África e os olhos dos que gostam do esporte que a Copa celebra de quatro em quatro anos já se voltam para o Brasil, sede do próximo mundial. Profundamente enraizado na cultura popular do povo brasileiro, o futebol deveria ser levado mais a sério pelos que querem fazer do nosso país um lugar mais justo e democrático.


A realização de grandes eventos esportivos como a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016 criará novas oportunidades de emprego e simboliza um importante reconhecimento internacional do nosso País. No entanto, a Copa brasileira deve se propor a ser mais que um amontoado de jogos ou um novo filão para o apetite voraz das empreiteiras responsáveis pelas obras de infraestrutura.


Se queremos disputar uma visão de mundo democrática e popular em amplos setores da população, deveríamos iniciar desde já um grande debate nacional sobre a mercantilização desse esporte e uma luta contundente para diminuir o poder político dos cartolas do futebol brasileiro e mundial. Entre outras coisas, é preciso incidir na disputa ideológica das torcidas, no combate à corrupção empresarial e na defesa de condições de trabalho decente para os jovens atletas, desde as categorias de base. Não há polvo no mundo que consiga prever se teremos, além de um hexacampeonato, mais essa vitória. Afinal, a imprevisibilidade do futebol é uma de suas maiores virtudes e a despeito da sagacidade do molusco alemão, a tal “caixinha de surpresas” sempre arma das suas.


segunda-feira, 17 de maio de 2010

Juventude do PT e Programa de Governo


A resolução final do Encontro Nacional da Juventude do PT e a emenda de juventude incorporada às diretrizes do programa Dilma 2010, no IV Congresso, representaram um esforço importante de síntese da opinião média da JPT sobre a importância estratégica da juventude no nosso projeto partidário e na disputa de projetos de desenvolvimento para o país.

O debate programático, no interior da JPT, deve ser um forte elemento de mobilização interna e externa para nossa militância, a começar pelos Encontros Estaduais e Municipais e a conseqüente criação dos comitês de campanha. Cabe agora, nestes meses de pré-campanha, aprofundarmos as orientações gerais apresentadas por estes documentos em profundo diálogo com as juventudes partidárias aliadas, com os movimentos juvenis, com candidaturas majoritárias e com as candidaturas jovens do nosso partido.

O momento político

Depois de situar conjunturalmente a experiência dos governos de esquerda e progressistas em curso nos países da América Latina e os desafios enfrentados em torno do modelo de desenvolvimento, das novas institucionalidades democráticas, entre outros, a resolução do ENJPT resgata sumariamente os principais avanços e medidas que fazem do governo Lula uma ponta de lança desse processo de mudanças que vivemos no continente.

O enfrentamento à herança neoliberal, a ampliação da soberania nacional, da democracia política, da integração regional e o exercício de um governo que atende à demandas históricas dos setores populares colocaram a luta política no país em outro patamar. Por esses avanços, a esquerda brasileira é desafiada a apresentar um programa que consolide tais conquistas mas, sobretudo, aprofunde mudanças estruturais.

A realização de um terceiro mandato do campo democrático e popular é parte deste desafio maior. Depois de séculos de colonialismo, desenvolvimento conservador e dependente, regressão econômica, democrática e social será preciso aprofundar as mudanças no Brasil lutando por um “projeto de desenvolvimento que seja democrático e popular, integrado a um programa de (...) reformas estruturais e articulado com a estratégia socialista do partido”( Resolução do ENJPT).

Uma plataforma clara de reformas estruturais deve localizar a questão da juventude no debate mais geral do desenvolvimento e da disputa política do país. Ou nas palavras da emenda apresentada ao IV Congresso, “criar as condições para formar uma geração capaz de disputar e dar continuidade aos avanços políticos, sociais, econômicos, culturais, científicos e ambientais que o país necessita”.

O balanço das políticas públicas de juventude durante o governo Lula

Há o reconhecimento por parte dos documentos da juventude do PT do avanço que representa o governo Lula para as políticas públicas de juventude no Brasil. Enquanto no período neoliberal, a juventude é afetada de maneira contundente pelo agravamento das desigualdades sociais, no governo Lula as políticas sociais de cunho universal e o reconhecimento da diversidade e da singularidade deste segmento produziram impactos importantes para os jovens brasileiros.

Esta política é traduzida na compreensão dos jovens como sujeitos de direitos e na criação de estruturas institucionais específicas para o tema juventude como a Conferência e o Conselho Nacional de Juventude e a Secretaria Nacional de Juventude, ligada a Presidência da República.

Ademais, a JPT entende a juventude como um dos segmentos mais beneficiados pelos avanços gerais das políticas sociais do governo, a exemplo da ampliação massiva das vagas e dos investimentos na educação e, principalmente, na ampliação dos postos de trabalho (cerca de 80% foram ocupados por jovens).

Contudo, para aprofundarmos o debate e balanço de tais políticas será preciso envolver uma gama de gestores, militantes sociais e as instâncias da juventude do PT, num diagnóstico rigoroso do alcance e da escala das PPJ, sua incorporação em ações estruturais, o perfil institucional de execução, monitoramento e controle/diálogo social destas políticas.

Elementos programáticos

Desde a formulação do Programa de Juventude – Lula 2006 há o reconhecimento nos documentos da juventude do PT de que existe no Brasil a convergência de uma série de fatores que abrem a possibilidade de situarmos a questão da juventude como estratégica na disputa de rumos do país.

O reconhecimento da dimensão demográfica deste segmento, que hoje representa mais de um quarto da população brasileira, e da gravidade das mazelas sociais que atingem principalmente os jovens demonstram que no atual momento histórico o Estado brasileiro, ao implementar políticas de juventude abrangentes e com escala, pode ajudar a romper o ciclo de reprodução da pobreza e transformar esse contingente populacional em vetor de um projeto de desenvolvimento de novo tipo, democrático e popular.

O desafio, portanto, passa a ser o de criar condições políticas, econômicas e sociais para a inserção social e produtiva diferenciada da atual, marcada pela entrada precoce e precarizada no mundo do trabalho, sem ter a opção de continuar os estudos e vulnerável às mazelas sociais”. Assim, garantir o “direito de viver a juventude”, o desenvolvimento integral do jovem, deve articular políticas públicas que permitam trajetórias de vivência e experimentação – sem que isso signifique risco á sua saúde e vida – permitidas hoje apenas aos jovens das classes altas.

Essa chave de leitura aberta pelos documentos aprovados pela juventude do PT afirma que o recorte conceitual que deve organizar o programa de juventude é o da emancipação, algo distinto de outras políticas sociais e segmentos populacionais que demandam outro tipo de atenção, de caráter mais protetivo ou assistencial.

Neste sentido, é retomado com centralidade no debate programático da juventude do PT o tratamento dado a articulação da educação com o mundo do trabalho para os jovens. A força deste tema, sempre presente nos debates e pesquisas sobre juventude, decorre não apenas por se situar entre as maiores preocupações dos jovens, mas também pela identificação de que “a emancipação dos jovens tem, entre seus elementos centrais, a educação e o trabalho”.

Diferente de outros momentos, o debate atual incorpora elementos que vão além da tradicional demanda de inserção dos jovens no mercado de trabalho, articulada com qualificação profissional. A compreensão da situação do trabalho realmente existente do jovem no país – com entrada precoce, precarizado, mal remunerado, com longas jornadas, incompatível com a continuidade dos estudos, etc. – colocou novos elementos no debate político e programático.

Assim, a resolução do ENJPT afirma que “devemos aproveitar o bom momento que vive o Brasil, para tratar como central, o debate sobre como e quando os jovens devem acessar o mercado de trabalho, e de que forma os jovens podem disputar o acesso ao trabalho decente, permitindo que o saldo desta discussão oriente a construção das políticas”. Ou na Emenda do IV Congresso, propondo “articular ações que combatam o ingresso precoce e em condições precárias dos jovens no mundo de trabalho com políticas educacionais e programas de transferência e geração de renda, formação e qualificação profissional”.

É importante situar que estas ações devem estar inseridas nos marcos mais gerais da política de trabalho e emprego do país. Portanto, tais iniciativas são tanto mais efetivas quando se situam em economias com crescimento econômico sustentado por criação de postos de trabalho decente, descompressão do mercado de trabalho por medidas como a redução da jornada e das horas extras, e demanda crescente de postos de trabalho qualificados, exigentes de maior nível de formação escolar e profissional.

Trata-se, assim, de combinar a criação de postos de trabalho decente para a juventude com o financiamento de um programa que amplie a rede de seguridade social aos jovens, que integre políticas de transferência de renda, elevação continuada e qualitativa da escolaridade, tempo livre, formação científica e tecnológica e mobilização em serviços sociais. Uma proposta que dialogue, inclusive, com a intervenção da companheira Dilma no Encontro da JPT sobre a necessidade de um programa integrador e em escala de intervenção suficiente para alcançarmos uma melhoria substancial nas condições de vida dos jovens brasileiros.

Tal política exigirá articulados avanços na educação. As diretrizes do ENJPT reconhecem os recentes e destacados avanços das políticas educacionais do governo Lula no sentido de ampliar o investimento público e ampliação massiva das vagas em todos os níveis, medida que alcança de forma expressiva os jovens. Contudo, o passivo de desestruturação e desconstrução educacional operado pelo neoliberalismo e pelo desenvolvimentismo conservador ainda é gritante.

Como se não bastassem os índices preocupantes de analfabetismo, distorção idade-série e de acesso ao Ensino Médio, Técnico Profissional e Superior para os jovens, a questão da qualidade de ensino ainda é um flanco a ser enfrentado. O fato é que hoje parte expressiva do sistema escolar não consegue sequer atender as expectativas de desenvolvimento das habilidades cognitivas e de aprendizado dos jovens.

Há que se destacar ainda, a necessidade de estabelecermos um debate profundo sobre o perfil do Ensino Médio: sua função, universalização, políticas de permanência e assistência estudantil; articulação com os distintos campos do saber e iniciação científica, integração com o ensino técnico e profissional e uma profunda revolução nos seus métodos de ensino-aprendizagem, na gestão democrática e política pedagógica.

Tais medidas, entre outras como a capacitação dos educadores sobre a temática juventude, buscariam interromper o profundo distanciamento do jovem com o ambiente escolar que além de não ser atrativo, não dialoga com a realidade da juventude.

No plano institucional, por sua vez, há menção sobre a necessidade de constituição de um Sistema Nacional de Juventude, mas ainda com pouca elaboração a respeito do conteúdo de seus marcos legais, a integração da participação popular e o caráter de espaços como os conselhos e conferências, as formas de financiamento e execução das políticas “na ponta”, entre outros.

Na Emenda apresentada ao IV Congresso ainda seriam incorporadas pontualmente questões importantes que devem ser aprofundadas na elaboração do programa de juventude, como as “políticas de cultura, saúde, mobilidade urbana, moradia, esporte e lazer de forma integrada e articulada na Política Nacional de Juventude, tendo como eixo o jovem e o território, contemplando as juventudes e as diversidades regionais, étnico-raciais, de gênero e culturais”

Na questão do direito do jovem ao território merecem atenção o diagnóstico e o desenvolvimento de políticas sobre mobilidade urbana, moradia juvenil e sobre equipamentos públicos ou centros de juventude. Este último, inclusive, tem se tornado uma proposta incorporada aos debates do PAC 2, em curso no governo.

A partir da criação da comissão de juventude do GT de Programa de Governo, a Juventude do PT envolverá convidados da academia, dos partidos aliados, dos movimentos sociais e demais setores que apóiam a candidatura Dilma. O plano de trabalho da comissão deverá incorporar temas que ainda merecerão detalhamento como saúde, segurança pública, cultura, drogas, meio ambiente, jovens mulheres, jovens negros/as, jovens LGBTs, entre outros, estabelecendo uma plataforma de juventude para a candidatura da companheira Dilma Roussef.

Bruno Elias é Coordenador de relações internacionais da JPT

terça-feira, 27 de abril de 2010

O Voto aos 16 e as escolhas da Juventude

Odeio os indiferentes.
(...) acredito que "viver significa tomar partido".
Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão, e partidário.
(...) Vivo, sou militante. (Antônio Gramsci)




A Juventude do PT entrará, nos próximos dias, na reta final de mobilização da sua Campanha de Voto aos 16 anos, lançada neste mês de Abril. Até o dia 5 de maio, prazo final para emissão do título de eleitor, serão realizados dezenas de atos, debates e panfletagens em todo o país, que têm como objetivo incentivar o alistamento eleitoral dos jovens de 16 e 17 anos, cujo voto é facultativo.

Esta mobilização, que é a primeira etapa de uma ampla campanha do PT com e para os jovens brasileiros, também é mais uma grande oportunidade de refutar as teses conservadoras de que os jovens de hoje não participam da vida política do país como as gerações anteriores ou que são apáticos e alienados. Nem mesmo o reconhecimento de que os jovens foram afetados de maneira contundente nos anos neoliberais por valores como o individualismo e competitividade é suficiente para sustentar tais teses.

Em outra conjuntura e de maneira distinta das gerações que protagonizaram importantes movimentos juvenis no passado, quando o movimento estudantil foi a principal representação política da juventude - ainda que mesmo na época não envolvesse a maioria da juventude brasileira - hoje os jovens constroem uma rede cada vez mais ampla e diversificada de organizações.

Além da importância de dialogarmos com essa diversidade, há um conjunto de fatores que agregam importância atual ao tema da Juventude. Depois de décadas de baixo crescimento econômico e regressão social, podemos dizer que os jovens foram os maiores afetados pelo modelo de desenvolvimento conservador e pelo neoliberalismo no país. O desmonte da educação e saúde pública, a precarização do acesso ao mundo do trabalho, a escalada da violência nos centros urbanos, a concentração da propriedade no campo, entre outras faces do legado neoliberal, atingiram fortemente a vida dos jovens brasileiros.

Com a abordagem dada pelo governo Lula, a juventude foi um dos segmentos mais beneficiados pelo conjunto das políticas sociais, a exemplo da ampliação dos postos de trabalho e dos investimentos na educação. Ademais, os jovens passaram a ser compreendidos como sujeitos de direitos, acompanhando a criação de estruturas institucionais específicas como a Conferência Nacional de Juventude, o Conselho Nacional de Juventude e a Secretaria Nacional de Juventude, ligada a Presidência da República.

A ampliação desses avanços deve considerar o momento especial de transição demográfica do país, em que o número de jovens alcançará seu maior patamar, hoje já representando mais de um quarto da população brasileira – a ser seguido de uma trajetória posterior de envelhecimento médio do conjunto da população. Este retrato impõe a necessidade de um olhar estratégico do Estado brasileiro no sentido de garantir o desenvolvimento integral dos jovens e antecipar soluções a dilemas no campo do trabalho, saúde pública e previdência social que teremos a médio e longo prazo.

Nestas eleições, portanto, mais do que implicações eleitorais, tratar a juventude como estratégica tem vínculos profundos com o novo tipo de desenvolvimento que queremos. Trata-se de implementar políticas de juventude abrangentes e com escala, que criem condições de inserção social e produtiva capazes de romper com o ciclo de reprodução da pobreza e que transformem essa geração em vetor de um projeto de desenvolvimento de novo tipo, democrático e popular.

Envolver a juventude brasileira nesta grande disputa de projetos em curso exigirá uma ação política específica e sintonizada com os interesses desta população. Apesar de importante, a mera comparação de projetos dos campos neoliberal, de José Serra, e o democrático-popular, de Dilma Roussef, é insuficiente. Aos jovens é de suma importância que a candidatura Dilma apresente uma agenda de conquistas e mudanças para o futuro, já que muitos pela idade não vivenciaram com tanta nitidez o contraste entre os governos tucanos e os avanços do governo do campo democrático e popular.

Com o mote “As escolhas da juventude mudam a história”, a campanha da JPT relembra personagens – Che, Zumbi, Pagu e Chico Mendes - que fizeram história desde a juventude pela soberania dos povos da América Latina, na trajetória de luta e resistência dos negros no Brasil, na luta pelos direitos das mulheres e por um modelo de desenvolvimento sustentável ambientalmente. Mais do que um apelo à participação dos jovens nas eleições de outubro, a campanha reafirma o papel pedagógico da ação partidária e a mensagem de que “a política pode mudar a vida e nós podemos mudar a política”.

As escolhas da juventude de pessoas como Dilma, ao resistir à ditadura e lutar pela democracia, colocaram-na ao lado daqueles que querem um país mais justo, soberano e democrático. Lutemos para que nossas escolhas também mudem a história e a elejam como a primeira mulher presidente do país e com um programa transformador para a juventude brasileira.


Bruno Elias
Coordenador de relações internacionais da JPT