sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Não basta ser jovem

Entre os dias 12 e 15 de novembro, realizou-se em Brasília, o segundo Congresso da Juventude do PT. Um balanço detido do congresso merecerá mais detalhes, mas dos vários pontos possíveis de serem avaliados, um em particular nos interessa: teria este Congresso ampliado a capacidade da Juventude do PT disputar um programa socialista e se enraizar na realidade e nas lutas da juventude brasileira?

Afinal, já é senso comum reconhecer que “novos personagens entram em cena” no atual momento político do país. As políticas sociais e econômicas dos últimos anos promoveram grande mobilidade social, retirando milhões da pobreza e ampliando a classe trabalhadora.

Estes trabalhadores, jovens em sua maioria e mal denominados nova classe média, tiveram uma elevação de suas condições materiais que não foi acompanhada por uma correspondente elevação cultural ou de valores solidários, humanistas ou mesmo das posições políticas de esquerda e progressistas.

As eleições de 2010, por exemplo, foram marcadas por esse descompasso entre os grandes avanços dos últimos anos e o conservadorismo ainda enraizado em setores da população. Ampliar e polarizar essa disputa ideológica contra a direita será uma das principais tarefas dos partidos de esquerda e dos movimentos sociais no próximo período.

É neste aspecto que as investidas de algumas denominações religiosas contra o Estado laico, a onda de ataques homofóbicos nas grandes cidades, a audiência de propostas como a pena de morte e a redução da maioridade penal, a criminalização do uso de drogas leves, entre outras ações, revelam o conteúdo reacionário e conservador da ação da direita que devemos enfrentar.

Precisamos de mais partido e luta social

Esta disputa se acentuará entre as novas gerações. O atual momento político coincide com um quadro demográfico de expressiva presença de jovens no país, conformando um quarto da população brasileira. Para uma parte expressiva destes jovens, não há memória do período neoliberal e o modo petista de governar é assimilado como exemplo de política tradicional, parte do status quo e incapaz de apresentar grandes novidades.

Superar essa percepção exigirá que o PT incorpore o tema juventude na sua agenda política e amplie as iniciativas que reforcem o caráter democrático e militante do partido. Assim, a tarefa dos jovens petistas passa a ser maior do que tratar apenas dos temas “de juventude”. Uma das principais tarefas da Juventude Petista deve ser a de MUDAR O PT, retomando sua presença nas novas marchas, redes e lutas da juventude, a formação política, o debate ideológico e a ação cultural.

Diante de tais tarefas e depois do congresso, fica claro que a nova geração do PT ainda terá uma longa caminhada para se firmar coletivamente como capaz de reencantar para a política amplos setores da juventude brasileira.

O Congresso da Juventude do PT impulsionou uma forte mobilização da juventude do partido. Convocado em mais de 1500 municípios de todos os estados do país, mobilizou em três meses quase 20 mil jovens na base do PT. Esta energia acumulada deve ser convertida em grandes atividades no próximo período, como o primeiro Encontro Nacional de Secretarias Municipais da Juventude do PT, a organização setorial, a campanha de filiação e Voto aos 16, a realização da segunda Caravana da JPT e a campanha municipal de 2012.

No entanto, o Congresso também foi pautado por visões distintas de como organizar a juventude do PT, ainda que parte dos desafios acima citados tenha sido reivindicada por grande parte das teses. Em muitos momentos, nosso Congresso combinou os mesmos vícios presentes em congressos estudantis e outras eleições partidárias. Práticas como a de artificialização de delegações municipais e estaduais e o controle centralizado da burocracia do Congresso nas mãos de apenas uma força política devem ser superadas.

Outra crítica recorrente é a de que precisamos também reformar nossos fóruns e espaços de debates. Quatro dias de mesas e uma programação vertical sem grupos de discussão entre jovens de todo o Brasil, além de um desperdício só reforça o afastamento da juventude com os espaços do PT. Aliás, reiteramos o discurso do presidente do partido, quando este disse que para atrair os jovens devemos enfrentar os burocratas. A JPT que queremos não é uma juventude institucionalizada e encastelada nos gabinetes.

Do ponto de vista da disputa do Congresso, o acordo eleitoral da chapa majoritária – Construindo um Novo Brasil e Democracia Socialista – também foi objeto de polêmica em plenário. Aqui não se trata de questionar a política de aliança de outras tendências internas do PT, mas a criação de uma secretaria-adjunta sem ter sido debatida ou proposta na comissão de sistematização serviu tão somente para acomodar o amigo do rei.

Nestes mesmos termos, ainda seria aprovada pela “nova maioria” uma emenda totalmente dispensável, incluindo o conceito de revolução democrática na resolução política do congresso. Requentada nos últimos anos, a revolução democrática ora é apresentada como as realizações dos governos Lula e Dilma, ora como plataforma pós-neoliberal. Se nem no PT os moderados aprovam mais isso nas resoluções, sua inclusão no documento da JPT serviu apenas para o conhecido argumento do “eles toparam o nosso programa”.

Apesar disso, o balanço geral do Congresso da JPT é positivo. A juventude do PT demonstrou ser muito maior que sua maioria de ocasião e mesmo com todas as adversidades, a esquerda socialista do PT permanece viva e atuante.

Celebrada nos discursos e documentos do Congresso, a idéia de pacto ou transição geracional, em si, não quer dizer nada quando descolada do conteúdo da política. Não basta ser jovem. A atuação da JPT também deve estar a serviço de uma nova política.

Nossas lutas e sonhos são de todas as cores. Nossa esperança é vermelha.

Bruno Elias

terça-feira, 8 de novembro de 2011

#2ConJPT: A hora da Juventude


A realização do 2º Congresso da JPT, entre os dias 12 e 15 de novembro, deve apontar caminhos para uma nova organização de juventude e um programa que dispute corações e mentes da juventude brasileira.

No rastro da atual crise capitalista, mobilizações juvenis e populares foram deflagradas em países árabes, na Europa, nos EUA e também em países vizinhos, como o Chile. Num momento em que o capitalismo apresenta toda sua vocação para a barbárie, é tarefa da Juventude do PT agitar bem alto a bandeira do socialismo.

Nossa defesa do socialismo é baseada na crítica ao capitalismo, aos seus efeitos destruidores sobre a natureza e sobre a humanidade. A destruição ambiental, a barbárie social, as guerras, a incompatibilidade cada vez maior entre o capitalismo e as liberdades democráticas são alguns dos motivos que tornam urgente a luta e a construção do socialismo como alternativa tanto aos grandes problemas da humanidade, quanto aos grandes dilemas do Brasil.

Alternativa democrática e popular

No Brasil e na América Latina, vivemos um tempo de grandes possibilidades. Partidos de esquerda governam para grande parte da população da região, garantindo mais democracia, mais igualdade, mais soberania nacional e mais integração continental. No Brasil, oito anos de governo Lula e os primeiros meses de governo Dilma vão deixando para trás o neoliberalismo.

Os avanços, no entanto, ainda não se tornaram estruturais, não se converteram num outro modelo de desenvolvimento. Portanto, é necessário mais partido e mais luta social em defesa de uma plataforma que aprofunde a democratização da sociedade, a partir de uma reforma política e da democratização dos meios de comunicação. Por sua vez, uma reforma tributária progressiva deve viabilizar um fundo público capaz de ampliar o gasto social e a participação do trabalho na distribuição da renda e riqueza do país.

Um projeto de desenvolvimento democrático e popular deve considerar o processo de incorporação das novas gerações. É preciso criar as condições para formar uma geração capaz de disputar e dar continuidade aos avanços políticos, sociais e econômicos que o Brasil necessita.

Esta é a maior geração de jovens da história, aproximadamente 50 milhões com 15 a 29 anos ou pouco mais de 25% da população do país. Tal bônus demográfico é um ativo importantíssimo no desenvolvimento das forças produtivas do país possibilitando, desde que bem aproveitado por uma ação planejada do Estado, um aumento da produção e da renda per capita, a elevação da capacidade de poupança e de investimento e uma otimização dos gastos sociais demandados pela população dependente.

Uma nova geração de políticas e direitos da juventude

A orientação geral do Governo Dilma em trabalhar a erradicação da pobreza extrema como meta fundamental de governo demandará a implementação de políticas públicas de juventude abrangentes e em escala, que colaborem na superação do ciclo de reprodução da pobreza que atinge as novas gerações.

Nesta perspectiva, a ampliação da cobertura das políticas sociais deve compreender também uma nova geração de políticas públicas de juventude e a criação de novos direitos sociais.  O recorte conceitual que deve organizar estas políticas é o da emancipação dos jovens, passando pela afirmação de novos direitos como o direito à experimentação, à autonomia, à participação, ao financiamento público do tempo livre, à redução obrigatória da jornada de trabalho durante os estudos, dentre outros.

Além disso, uma nova articulação entre o mundo do trabalho e a educação para os jovens também se faz necessária. Apontar uma inserção social e produtiva da juventude diferenciada da atual passa por enfrentar a situação do trabalho juvenil no país - precoce, precarizado, mal remunerado, com longas jornadas, incompatível com a continuidade dos estudos, etc.

O desafio passa a ser o de combinar a criação de postos de trabalho decente para a juventude com o financiamento de programas que integrem políticas de transferência de renda, elevação continuada e qualitativa da escolaridade, tempo livre, formação científica e tecnológica e mobilização em serviços comunitários.

De igual maneira, a política educacional deve dar um salto de qualidade. Além da ampliação do acesso à todas as modalidades de ensino e a erradicação do analfabetismo, será preciso empreender uma reestruturação profunda do Ensino Médio em sua articulação com os distintos campos do saber e iniciação científica, na integração com o ensino técnico e profissional e nos seus instrumentos de ensino-aprendizagem, gestão democrática e política pedagógica.

O PT e a juventude

Apesar de ter sempre contado com muitos jovens em suas fileiras, o PT nunca considerou o tema e a organização dos jovens como prioridade. Por vezes, inclusive, relegou a outros partidos da esquerda brasileira a referência do projeto democrático e popular na juventude.

Precisamos superar em nosso partido a visão instrumental que encara os jovens como “tarefeiros” ou apenas como quadros “inexperientes” a serem formados para o futuro. A compreensão do jovem como sujeito político do presente, capaz de participar da renovação do projeto político do partido, permanece como um grande desafio.

São por esses e outros motivos que o PT, mesmo com quase 30% da preferência do eleitorado nacional, tem perdido apoio nas novas gerações. Para grande parte dos jovens, o partido já é visto como igual aos demais partidos tradicionais. A crescente institucionalização, o refluxo do debate ideológico e a ausência de discurso e diálogo com os movimentos juvenis reforçam este estigma.

Na luta política dos próximos anos, a mera estratégia de comparar os governos petistas com os governos tucanos, apesar de importante, não será suficiente. Aos jovens será fundamental que os partidos apresentem uma agenda de conquistas e mudanças para o futuro, já que muitos pela idade não vivenciaram com tanta nitidez o contraste entre um e outro modo de governar.

Novos personagens entram em cena. E contrariando o senso comum conservador de que a juventude é apática e despolitizada, acompanhamos o surgimento cada vez maior de novas redes e formas de participação da juventude. No trabalho, nos estudos ou mesmo conectada ao mundo a partir da internet, percebemos na ação comunitária, nas redes sociais ou nas marchas e movimentos juvenis, uma atuação coletiva cada vez mais diversificada.

É central para a juventude do PT dialogar com essa nova geração de lutadoras e lutadores sociais.

Um novo patamar da Juventude do PT

Apontar caminhos que reforcem o caráter democrático e militante da Juventude do PT será fundamental no próximo período, em que a JPT coordenará a campanha municipal de juventude em 2012 e deve criar as condições políticas e organizativas para ampliar a sua presença nas lutas da juventude.

Alcançando mais de 1500 municípios em todos os estados do país, a mobilização do 2° Congresso da Juventude do PT indicou que há espaço para o enraizamento e municipalização de uma organização militante e de massas dos jovens petistas.

No entanto, os limites político-organizativos ainda presentes na JPT também ficaram evidentes durante o Congresso. Em muitos momentos, percebemos os mesmos vícios existentes em outras eleições internas ou congressos estudantis.  É a partir desta crítica que rejeitamos a renovação conservadora que representaria a proposta de PED da juventude.

Apresentada de maneira tímida e sem enraizamento nos debates preparatórios do Congresso, o PED de Juventude é uma proposta que, acima de tudo, não supera os problemas do atual modelo. Ao contrário, acentua uma concepção de filiado-eleitor em detrimento de uma participação militante, que não colabora na politização da renovação das direções de juventude.

Do ponto de vista organizativo, a próxima gestão da juventude do PT terá grandes tarefas. A ação municipal deve ser uma das prioridades desta gestão que coordenará a juventude petista nas eleições municipais de 2012 e deve consolidar seu novo modelo organizativo desde a base.

Neste sentido, propomos a realização de um primeiro Encontro Nacional de Secretarias Municipais da Juventude do PT, no primeiro semestre de 2012, para planejar a intervenção da JPT nos próximos dois anos e convocar uma 2ª Caravana Nacional da JPT, a percorrer os estados de todo o país, debatendo o programa de juventude para as eleições.

Outra importante frente de atuação é a dos movimentos juvenis. A JPT deve construir um trabalho setorial nas mais diversas frentes de atuação e participação da juventude. Estes setoriais devem ser espaços mais livres e flexíveis de atuação dos jovens petistas, aglutinando simpatizantes e militantes do movimento juvenil, a exemplo da JN13, coletivos de jovens feministas, de diversidade sexual, redes sociais, meio ambiente, cultural, estudantil, entre outros.

A nova organização da JPT, apontada pelo 4º congresso do partido e fortalecida pelo congresso da juventude petista, deve ser tirada do papel pelos próprios jovens do PT. Tal autonomia não deve ser compreendida como independência ou separação do partido, mas como condição indispensável para a Juventude do Partido dos Trabalhadores dispor de sua própria organização e capacidade de incidir nas pautas e lutas da juventude brasileira.

Bruno Elias é Coordenador de relações internacionais da JPT e candidato à secretário nacional da Juventude do PT pela tese "A Esperança é Vermelha"

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Os caetés de Graciliano Ramos



Depois de semanas de idas e vindas, terminei de ler “Caetés” de Graciliano Ramos, livro que recomendo a todos.

Caetés é a primeira obra do escritor alagoano. Anuncia o talento que viria a ser consagrado em livros posteriores, como “São Bernardo”, “Angústia” e a obra-prima “Vidas Secas”, entre outras.
...
Em Caetés, a cidade de Palmeira dos Índios – que eu tive a oportunidade de conhecer nas andanças do movimento estudantil – se converte em cidade-mundo, palco de dilemas tão particulares quanto universais de um certo guarda-livros João Valério.

Se as aspirações literárias ou sentimentais do protagonista serão ou não realizadas, deixo a curiosidade para os futuros leitores do livro, mas o que vale é a homenagem a este grande brasileiro chamado Graciliano Ramos.

Para além de sua contribuição literária, Graciliano Ramos também foi defensor de posições políticas avançadas. Jovem prefeito em Palmeira dos Índios e com respeitada carreira no serviço público, o autor foi perseguido e preso pela ditadura do Estado Novo na década de 1930. Desta passagem pela prisão política, Graciliano nos legou o contundente relato póstumo “Memórias do Cárcere”. Anos depois ainda se filiaria ao Partido Comunista Brasileiro.

Em breves trechos, como os que eu destaco abaixo, evidenciam-se traços de sua literatura nua, crua e extremamente humana:

“Caminhamos em silêncio até o lugar onde existiu o cruzeiro verde, um cajueiro com dois galhos em forma de cruz, que a gente dos sítios próximos vinha adorar. Falei da multidão que ali encontrei uma tarde – mendigos, mulheres com filhos pendurados aos peitos, curiosos, espertalhões que se arvoravam em sacerdotes”

“Não ser selvagem! Que sou eu senão um selvagem, ligeiramente polido, com uma tênue camada de verniz por fora? Quatrocentos anos de civilização, outras raças, outros costumes. E eu disse que não sabia o que se passava na alma de um caeté! Provavelmente o que se passa na minha, com algumas diferenças. Um caeté de olhos azuis, que fala português ruim, sabe escrituração mercantil, lê jornais, ouve missas. É isto, um caeté. Estes desejos excessivos que desaparecem bruscamente... Esta inconstância que me faz doidejar em torno de um soneto incompleto, um artigo que se esquiva, um romance que não posso acabar...”

“(...) Mas no íntimo, um caeté. Um caeté descrente. Descrente? Engano. Não há ninguém mais crédulo que eu. E esta exaltação, quase veneração com que ouço falar em artistas que não conheço, filósofos que não sei se existiram!

Ateu! Não é verdade. Tenho passado a vida a criar deuses que morrem logo, ídolos que depois derrubo – uma estrela no céu, algumas mulheres na terra...”

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Carta de um jovem petista


Companheiras e companheiros,


No Brasil e na América Latina, vivemos um tempo de grandes possibilidades. Partidos de esquerda governam para grande parte da população da região, garantindo mais democracia, mais igualdade, mais soberania nacional e mais integração continental. No Brasil, oito anos de governo Lula e oito meses de governo Dilma vão deixando para trás o neoliberalismo.

Mas para que estas mudanças tenham sustentabilidade, é preciso mais que ganhar eleições. É preciso organização popular e partidária. Por isto, depois de 31 anos, o Partido dos Trabalhadores é chamado a reforçar seu caráter militante e seu compromisso com um projeto político democrático, popular e socialista.

Precisamos de mais votos, mais organização popular e partidária, entre outros motivos porque a direita brasileira segue atuante e agressiva. E também porque, ao olharmos o mundo, o cenário é inquietante. No rastro da crise do capitalismo neoliberal, mobilizações populares e juvenis foram deflagradas em países árabes, na Europa e também em países vizinhos, como o Chile. Num momento de crise como o atual, em que o capitalismo apresenta toda sua vocação para a barbárie, precisamos agitar bem alto a bandeira do socialismo.

No Brasil, o desafio de consolidar conquistas e aprofundar as mudanças iniciadas em 2003 coincide com um momento especial. Nosso país possui a maior geração de jovens de sua história, aproximadamente 50 milhões, com idade entre 15 e 29 anos.

A partir do governo Lula e agora com Dilma, muita coisa começou a ser mudada e de “juventude problema” passamos a ser alcançados pelas políticas sociais e pelo crescimento econômico dos últimos anos. E é justamente para não pagar pela crise e com otimismo em relação ao país, que queremos muito mais!

Neste país em mudança, uma nova geração de jovens entra em cena. Contrariando o senso comum conservador de que a juventude é apática e despolitizada, acompanhamos o surgimento cada vez maior de novas redes e formas de participação da juventude. No trabalho, nos estudos ou mesmo conectada ao mundo a partir da internet, percebemos na ação comunitária, nas redes sociais ou nas marchas e movimentos juvenis, uma atuação coletiva cada vez mais diversificada.

Ao ser fundado, o PT promoveu um grande encontro entre a geração de jovens que lutou contra a ditadura e a jovem classe trabalhadora presente nas mobilizações da década de 1970 e 1980. Reuniu sonhos e muita luta daquelas e daqueles que dedicaram e dedicam sua vida à transformação da sociedade e ao fim da opressão e da exploração do homem pelo homem.

Apesar de ter sempre contado com muitos jovens em suas fileiras, o PT nunca considerou o tema e a organização dos jovens como prioridade. Por vezes, inclusive, deixou que outros partidos da esquerda brasileira se consolidassem como referência partidária do projeto democrático e popular na juventude.

Precisamos superar em nosso Partido dos Trabalhadores a visão instrumental que encara os jovens como “tarefeiros” ou apenas como quadros “inexperientes” a serem formados para o futuro. A compreensão do jovem como sujeito político do presente, capaz de participar da renovação do projeto político do partido, permanece como um grande desafio.

São por esses e outros motivos que o PT, mesmo com quase 30% da preferência do eleitorado nacional, tem perdido apoio nas novas gerações. Para grande parte dos jovens, o partido já é visto como igual aos demais partidos tradicionais. A crescente institucionalização, o refluxo do debate ideológico e a ausência de discurso e diálogo com os movimentos juvenis reforçam este estigma.

A nossa geração – em um outro período do partido e do país– é desafiada, da mesma forma que a geração que fundou e construiu o PT, a exercer seu protagonismo e ousadia. A realização do 2º Congresso da Juventude do PT neste semestre é uma grande oportunidade para iniciarmos um novo ciclo na história da nossa juventude partidária.

Para tanto, precisaremos reconstruir o trabalho com os jovens como prioridade de todo o partido, passando a contar com uma forte organização de juventude. Uma juventude militante e de massas, com autonomia e capacidade de organizar a base social petista entre os jovens, compreender e viver a realidade da juventude e atuar junto às diversas manifestações juvenis.

Para contribuir com este grande debate, apresentamos ao partido e à juventude nossa candidatura à Secretaria Nacional de Juventude do PT. Comecei minha militância partidária no PT do Tocantins. Atuando no movimento estudantil, fui eleito em 2004 presidente do Diretório Central dos Estudantes da UFT. Em 2005, assumi a Secretaria-Geral do PT de Palmas, permanecendo até 2007, quando fui eleito 1º Vice Presidente da União Nacional dos Estudantes (2007/2009). Atualmente em Brasília, sou coordenador de relações internacionais da Direção Nacional da Juventude do PT.

Estamos entre aqueles e aquelas que reivindicam o PT como partido socialista, democrático e de massas. Com a força da nossa militância, queremos fazer nossa estrela brilhar mais forte na juventude. Somos pela renovação geracional do partido, para que o PT amanhã não seja um mero administrador do possível, mas portador cada vez mais representativo dos sonhos da juventude brasileira.



Saudações Petistas,

Bruno Elias

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Uma nova política de uma nova geração


*Bruno Elias


“Vocês não nos deixam sonhar. Nós não os deixaremos dormir”



O Brasil vive um momento desafiador. Ao mesmo tempo em que é palco de conquistas sociais reconhecidas pelos seus e pelo mundo, possui a maior geração de jovens de sua história: somos aproximadamente 50 milhões de brasileiros, com idade entre 15 e 29 anos.

Por muito tempo, ao se falar de juventude, era comum o recurso ao saudosismo. Em oposição aos engajados da “geração de 68”, a nova geração de jovens seria apática, despolitizada e quando muito teria tido seu último suspiro político nas mobilizações estudantis do Fora Collor. Desconstituía-se, assim, não só a memória de ações reais de toda uma década, como a própria idéia de participação, organização e ação coletiva contemporânea.

A Geração Coca-Cola, cujos heróis “morreram de overdose” e perguntou “Que país é esse?”, lutou e participou ativamente das mudanças políticas dos anos seguintes. Nas eleições, votou em sua maioria pela mudança em 2002 e por sua continuidade em 2006 e 2010. De estatística das desigualdades sociais nas décadas perdidas passaram a ser alcançados pelas políticas sociais e pelo crescimento econômico dos últimos anos.

É com este país em mudança que uma nova geração de jovens entra em cena. Contrariando o senso comum de certos formadores de opinião e meios de comunicação, a estabilidade democrática e as novas tecnologias potencializaram novas formas de participação da juventude. Conectada ao mundo a partir da internet, percebemos nas redes sociais, na ação comunitária ou nas marchas libertárias dos últimos meses, uma atuação coletiva cada vez mais diversificada.

Batalhando no trabalho e nos estudos, a atual geração de jovens é otimista em relação ao país, mas quer muito mais. Vivendo uma fase da vida em que o indivíduo processa de maneira intensa seus conflitos, decisões e sua inserção na vida social, os jovens estão cada vez mais atraídos por novas bandeiras. Tendo parte da agenda de inclusão social atendida pelos avanços dos últimos anos, ganham força as reivindicações ligadas à liberdade, autonomia e experimentação.

Parte importante desta juventude já não se enxerga no jeito “tradicional” de fazer política. Contando com poucos representantes nos espaços de poder e atenta às denúncias de corrupção, deseja mais do que ações pontuais contra malfeitos com a coisa pública. O anseio é por mudanças mais profundas, algo que um grande debate público sobre a reforma política – para além dos gabinetes dos beneficiados pelo atual modelo - poderia mobilizar.

Entre os próprios partidos políticos, são poucos os que levam o tema juventude a sério. Quando não são tratados como meros tarefeiros, a visão dominante e instrumental encara a juventude como “celeiro de quadros”, a serem formados para o futuro. A compreensão do jovem como sujeito político do presente, capaz de participar da renovação do projeto político dos partidos, permanece como um grande desafio.

Um partido como o PT, por exemplo, não entende porque tem quase 30% da preferência do eleitorado, mas perde apoio nas novas gerações. O fato é que para grande parte dos jovens, o partido já é visto como igual aos demais partidos tradicionais. A crescente institucionalização, o refluxo do debate ideológico e a ausência de discurso e diálogo com as novas redes da juventude reforçam este estigma.

Querendo ou não, os partidos políticos serão chamados a fazer esse debate nos próximos anos. Nas próximas disputas eleitorais, a mera estratégia de comparar os governos petistas com os governos tucanos, apesar de importante, não será suficiente. Aos jovens será fundamental que os partidos apresentem uma agenda de conquistas e mudanças para o futuro, já que muitos pela idade não vivenciaram com tanta nitidez o contraste entre um e outro modo de governar.

Ao ser fundado, o PT promoveu um grande encontro entre a geração de jovens que lutou contra a ditadura e a jovem classe operária presente nas mobilizações da década de 1970 e 1980. É hora do PT surpreender mais uma vez, apostando nas suas novas gerações e na afirmação de um projeto democrático e popular que ganhe corações e mentes da juventude.


Bruno Elias (@_brunoelias) é estudante de Serviço Social da Universidade de Brasília e Coordenador de Relações Internacionais da Juventude do PT

domingo, 14 de agosto de 2011

INNER LONDON VIOLENCE PELA TV


“Inner London violence”, da banda skinhead Bad Manners, foi uma música que me veio à cabeça enquanto comecei a ver os riots em Londres tornando-se assunto cada vez mais frequente na TV. Aqui em Dublin, capital da República da Irlanda, mais especificamente do hostel imundo em que vivo no centro da cidade, lado norte, o “lado negro”* de Dublin, tudo que consigo ver pela TV aberta é uma dúzia de canais, sendo uma metade nacional e outra que transmite direto do Reino Unido.

A música se justifica pelo início dos tumultos exatamente na região de Tottenham, na Inner London (pela divisão que fazem entre a Inner e a Outer).

Mas o que pensar sobre as cenas em si?

O que primeiro me chamou a atenção, antes mesmo das animadas imagens de saque, incêndio e confrontos entre moradores da área e policiais foram as subsequentes reações dos conservadores do Estado vizinho. David Cameron é um saco. Um dos políticos com quem menos fui com a cara no decorrer de toda a minha vida (no Top 3 junto com George Bush Pai e o deputado federal sergipano Almeida Lima).

É o Reino Unido dos grandes tablóides recheados de sangue, sexo e fofoca. Inundado em um conservadorismo hermeticamente fechado, onde a figura do primeiro ministro inglês e o resto do mainstream político não abrem qualquer brecha à crítica das medidas de austeridade fiscal tomadas pela atual coalizão, muito bem evidenciadas pelos conflitos com trabalhadores do setor público também. Além disso é um lugar de vários reality shows policiais que dariam inveja a José Luiz Datena em termos de roteiro e produção.

Os riots se espalham pra além da cidade que outrora queimava de tédio, como diriam os punks do Clash, e foram pra Birmingham, Liverpool, Manchester , além de em menores focos em outras cidades da Inglaterra, e mesmo em Cardiff, capital do País de Gales (até a hora em que esse texto foi escrito). São lojas de celulares tomadas de assalto com Iphones e Blackberrys, novos requisitos para a circulaçao rápida de informação no mundo de hoje, levados aos montes; lojas Foot Locker com os sapatos da moda européia e americana sendo destruídas e saqueadas.

No twitter o #londonriots dava uma certa idéia do estado de nervos da cidade.

No quarto dia de tumultos, quando o mainstream inglês anuncia que começará a utilizar munição não letal pra enfrentar os “troublemakers” conversei com um amigo romeno**, ex sem-teto em Londres, que trabalha ao meu lado na função de signman, na qual despendo 3 horas do meu dia em pé ao relento. Ele me veio com uma outra ótica, vendo um lado mais cru, mais interno e extremamente estratégico dos acontecimentos. Disse-me que a maioria dos envolvidos estavam ali pensando nos equipamentos eletrônicos e outros tipos de stuff que iriam tirar das lojas. Concordei. “Que se confiam na força da multidao pra fazer o que vem fazendo”, falou em seguida. Por último ressaltou a limitação do poder policial britânico, que ele conhece bem, em enfrentar esse tipo de acontecimento inesperado, ao menos durante os primeiros dias. Também concordei. Assim como concordei que as polícias brasileira e romena teriam aparentemente menor dificuldade.

Perguntei então qual seria a razão daquela decisão estar sendo tomada exatamente naquele momento, “porque tem uma multidão pra ir junto” (obvio, estupido!). Mas continuei: “e por que se formou essa multidao?”. Chegamos aí à questão de agora.

Hoje na mesma 14 polegadas assisti gente da família do jovem morto em Tottenham dizer que as manifestações começaram pela rejeição de membros da comunidade ao abuso do poder policial, mas agora não sabia mais o que se passava, que algo mais movimentava aquele ódio em cidades tão distantes da Inner London onde Tottenham está situada.

De cara não tem muita semelhança com os movimentos do Oriente Médio e com os protestos em alguns países em crise da zona do Euro, como Grécia e Espanha. Talvez pela clara diferença de propósitos (ou mesmo pela aparente ausência deles nesse caso). Mas as condições econômicas são bastante parecidas pra se ter idéia, em diferentes padrões de desenvolvimento obviamente.
Entrevistas de jovens das vizinhanças mais “perigosas” captam exatamente críticas ao elevado desemprego e à depreciação das condições de vida, tornada clara pelo alto preço do que se quer comprar. Esse é um mundo em que ser feliz não é tão barato afinal de contas.

Falando em semelhança, lembro mesmo é dos carros queimados nas periferias francesas alguns anos atrás.

Mas não consigo imaginar que se tratem de acontecimentos sociais totalmente apartados dessa onda rebelde que tem brindado esse início de década. É como se mais pessoas estivessem ficando de saco cheio de viver onde elas vivem do jeito que elas vivem. Anima ver a placidez dos grandes líderes visivelmente abalada por coisas como a Wikileaks.

Do outro lado, o establishment personalisado nesse caso na figura de David Cameron não aparenta qualquer interesse em ceder um centímetro em seu estreito discurso de lei e ordem. Nada além de medidas repressivas e expressões de nojo compõem o discurso do primeiro ministro e agregados até o momento, sendo que já se falou até em exército na rua e interrupção emergencial dos serviços de internet (pra atingir em cheio os BlackBerrys dos rioters, parecido com o que acontece no Oriente Médio).

Há a clara intenção de construir a noção de “mindless” no imaginário do público sobre aqueles que têm controlado as ruas, pra isso também contam com a violência das imagens a favor na luta midiática. O discurso de Cameron passa a mensagem de que a repressão será utilizada até um ponto em que a sociedade inglesa se tornará uma espécie de “riot proof”. É a tentativa de dizer que os fatos causadores das preocupações não pertencem ao mundo civilizado. É esse também o tipo de hora em que as tais garantias constitucionais ocidentais mais incomodam. Vejamos até onde o poder político do Estado pode e deseja ir.

O governo se esquiva do debate de cunho social e econômico. Faz parte do plano. Na atual situação é melhor para Cameron evitar repetir a palavra fundamental do vocabulário de sua política interna: AUSTERIDADE!

Quanto mais cedo a onda incendiária terminar, melhor para o futuro político do tal Cameron e sua coalizão.

E qualquer problema é só ligar 999!

*sugiro o filme The Commitments
**agradecimentos a Demi Florin

Guilherme Andrade, 24, bacharel em Direito pela UFS, advogado, segurador de placas, músico, cineasta e goleiro em 11/08/2011.

sábado, 14 de maio de 2011

Conferência de Juventude na Rua!

No último dia 4 de maio, foi realizada a primeira reunião da Comissão Organizadora Nacional (CON) da 2ª Conferência Nacional de Juventude, cuja etapa nacional será realizada entre os dias 9 e 12 de dezembro de 2011, na cidade de Brasília.

A CON é composta por 15 membros da sociedade civil (CONJUVE) e 18 membros do poder público.

O primeiro ponto de pauta foi a discussão sobre o temário que, segundo o Regimento interno compreende:


I – Juventude: Democracia, Participação e Desenvolvimento Nacional;

II – Plano Nacional de Juventude: prioridades 2011-2015;

III – Articulação e integração das políticas públicas de juventude.


Sobre estes e outros assuntos referentes ao caráter da Conferência, convém anotar algumas observações, presentes na intervenção de muitos dos participantes na reunião:

- A 2ª Conferência Nacional de Juventude deve se consolidar como instrumento privilegiado da dimensão participativa da Política Nacional de Juventude (PNJ);

- O caráter da 2ª Conferência, por sua vez, deve ir além do estímulo a participação dos jovens ("Levantar Bandeiras") ou do seu justo reconhecimento como sujeito de direitos e publico de políticas especificas e universais;

– O debate sobre as proposições de políticas para os jovens durante a 2ª Conferência deve ser feito em conexão com os grandes temas que mobilizam o país, indicando qual o lugar da juventude na construção de um projeto de desenvolvimento democrático e popular para o Brasil;

- Pelo momento em que é realizada (inicio de um novo governo), também deve estimular reflexões de balanço sobre a Política Nacional de Juventude durante a gestão anterior, assim como uma resposta política sobre as resoluções da 1ª Conferência;

- As resoluções da 2ª Conferência devem colaborar no fortalecimento institucional da PNJ, pactuando diretrizes que anunciem compromissos do Estado brasileiro com os jovens (a serem sintetizados no Plano Nacional) e o reconhecimento e declaração política de uma nova geração de direitos e de políticas de juventude (presentes na discussão do Estatuto);

- Um dos maiores legados da ultima conferencia foi a metodologia participativa. Esta deve estar novamente presente, considerada como fundamental no processo de escuta das demandas e proposições bem como na definição das prioridades e das grandes questões em debate durante toda a conferência.


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Depois desta discussão foi anunciada a assinatura do Regimento Interno da Conferência pelo ministro Gilberto de Carvalho e escolhido o Comitê Executivo da Conferência, composto de 6 membros - 3 da Secretaria Nacional de Juventude e 3 do CONJUVE.

Os membros do CONJUVE serão Darcy Gomes (Juv. Partidárias), Gabriel Alves (CPC-UMES), Káthia Dudyk, (Instituto Paulo Freire); pela SNJ participam Bruno Elias, Gabriel Souza e Fabrício Lopes.

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Em http://www.juventude.gov.br/, já se encontram o Regimento interno da 2ª Conferência Nacional de Juventude e Resolução da CON nº1, tratando das etapas estaduais.



Bruno Elias é coordenador de relações internacionais da Juventude do PT e membro do comitê executivo da 2ª Conferência Nacional de Juventude, pela SNJ.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Transição geracional no governo Dilma


Bruno Elias

* Publicado no Página 13


Em recente decisão do Ministro Gilberto de Carvalho, a atual Secretária Nacional da Juventude do PT, Severine Macedo, foi confirmada como a nova Secretária Nacional de Juventude (SNJ) do governo Dilma. A secretaria, criada em 2005 e vinculada à Secretaria Geral da Presidência, é responsável pela articulação e execução das políticas públicas de juventude (PPJ) no âmbito do Governo Federal.

Severine Macedo é oriunda do movimento de trabalhadores da agricultura familiar e teve sua indicação respaldada por um conjunto de dirigentes partidários, movimentos sociais e juvenis e intelectuais ligados ao tema juventude. Segundo a nova secretária, estarão entre as tarefas da SNJ “agregar a perspectiva da juventude no projeto de desenvolvimento do país, ampliando a compreensão dos jovens como sujeitos de direitos e o alcance das políticas de erradicação da miséria nas novas gerações”.

Entre os desafios colocados para a gestão que se inicia está o de consolidar as conquistas e aprofundar as mudanças iniciadas no Governo Lula, em sintonia com novas e antigas aspirações populares. Dentre estas novas aspirações, a situação da juventude assume destacada importância, não só do ponto de vista da inclusão social de setores expressivos da população, mas também na tarefa essencial de colaborar com a renovação da cultura política do país.

O incremento de novas institucionalidades democráticas e políticas sociais, realizadas durante o governo Lula, implicou na ampliação dos sujeitos de direitos por elas alcançados, dentre os quais a juventude. Esta ampliação do escopo da política social combinou a retomada da universalização das políticas e serviços públicos garantidos pela Constituição Federal com a ampliação das políticas de transferência de renda focalizada nos setores mais empobrecidos.

No campo das PPJ, esta política foi reforçada nos últimos anos com a criação de estruturas institucionais específicas para o tema juventude como a Conferência e o Conselho Nacional de Juventude, a Secretaria Nacional de Juventude, ligada a Presidência da República, e programas de inclusão como o PROJOVEM.

A ampliação desses avanços deve considerar o momento de especial transição demográfica do Brasil, em que o número de jovens alcançará seu maior patamar – mais de um quarto da população – durante os próximos vinte anos, dando sequência a partir de meados de 2030 a uma trajetória de acentuado envelhecimento do conjunto da população.

Este retrato impõe a necessidade de um planejamento estratégico do Estado brasileiro no sentido de garantir o desenvolvimento integral das novas gerações, ampliando seus direitos e antecipando soluções a dilemas, entre outros, no campo do trabalho, do desenvolvimento urbano, da saúde pública e da previdência social que teremos a médio e longo prazo.

Direito de viver a juventude

A orientação geral do Governo Dilma em trabalhar a erradicação da pobreza extrema como meta fundamental de governo continuará demandando um enfoque social ampliado das políticas de juventude. A implementação de políticas públicas abrangentes e em escala devem colaborar na superação do ciclo de reprodução da pobreza que atinge as novas gerações.

Para tanto, a garantia do “direito de viver a juventude” deve articular uma nova geração de direitos e políticas públicas que possibilitem trajetórias de vivência e emancipação aos jovens, a partir do acesso ao financiamento público do tempo livre, à experimentação, à redução obrigatória da jornada de trabalho durante os estudos, ao trabalho decente, dentre outros.

Articular esta nova geração de políticas públicas exigirá um novo arranjo institucional e federativo, em que políticas e equipamentos públicos voltados aos jovens se articulem e se integrem a partir do território e assumam inovações do ponto de vista da gestão pública que ampliem as condições de monitoramento, avaliação e participação popular.

Elemento importante desta agenda de juventude que se inicia em 2011 será a realização da 2ª Conferência Nacional de Juventude, a ser precedida de conferências livres, temáticas, municipais e estaduais. O olhar geracional a ser incorporado ao modelo de desenvolvimento do país deverá mobilizar milhares de militantes juvenis, movimentos sociais e gestores das políticas de juventude, consolidando uma agenda de políticas e debates que façam avançar este tema no governo e na sociedade.

Bruno Elias, coordenador de relações internacionais da Juventude do PT

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Notas sobre Juventude e Desenvolvimento



Bruno Elias

A eleição de Dilma Rousseff para um terceiro mandato progressista na presidência do Brasil marca uma nova etapa da disputa iniciada no Governo Lula por um programa de transformações democráticas e populares para o país. Essa conjuntura inédita exige que nos debrucemos sobre questões que antes não tinham a mesma relevância no debate político, dentre as quais a questão social da juventude e suas implicações para um desenvolvimento de orientação democrática e popular.

Se o tema juventude ainda é considerado por muitos como secundário, sem relevância diante das “grandes” questões econômicas e sociais é, em parte, porque sobre o mesmo recai uma magnitude de incompreensões e superficialidades que limitam o entendimento sobre a singularidade desta categoria social.

A juventude, enquanto um período específico do ciclo de vida, é marcada pela superação da condição anterior de dependência e proteção exigida pela infância e adolescência por uma etapa em que o indivíduo processa de maneira intensa a busca de sua plena inserção na vida social.

Esta condição, perseguida a partir do desenvolvimento de sua autonomia pessoal e independência, se dá num ambiente de acentuado conflito entre tais anseios e os limites impostos na sociedade capitalista e se manifesta a partir de múltiplas desigualdades e diversidade internas, segundo recortes de classe, gênero, etnia, renda familiar, região de moradia, etc.

O bônus demográfico

É desta leitura diferenciada sobre este momento da vida e a partir da convergência de uma série de fenômenos sociais, que a questão da juventude deve ser localizada no debate mais geral sobre as tendências e a natureza do desenvolvimento.

Dentre estes fenômenos, o conhecimento da dinâmica demográfica em curso no país assume uma dimensão estratégica. A combinação de uma progressiva redução dos índices de mortalidade com a elevada taxa de fecundidade durante os anos 1970 e 1980, propiciou uma profunda alteração na estrutura etária brasileira.

O fato é que a população jovem de 15 a 29 anos nunca foi tão grande no Brasil, aproximadamente 50 milhões ou pouco mais de 25% da população do país. Esta “onda jovem” proporcionou um fenômeno igualmente importante denominado bônus demográfico, no qual o peso da população economicamente ativa (15 a 64 anos) supera o da população dependente – crianças e idosos.

O bônus demográfico é um ativo importantíssimo no desenvolvimento das forças produtivas do país possibilitando, desde que bem aproveitado por uma ação planejada do Estado, um aumento da produção e da renda per capita, a elevação da capacidade de poupança e de investimento e uma otimização dos gastos sociais demandados pela população dependente.

Por acontecer uma única vez, em longos períodos históricos, o bônus demográfico também é conhecido nos estudos populacionais como “janela de oportunidades” para o desenvolvimento.

Os países que aproveitaram tais “janelas” tiveram êxitos na sustentação de seus ciclos de desenvolvimento. Para ficarmos apenas em alguns exemplos, são muitos os estudos que associam o “baby boom” do pós II Guerra à expansão dos “30 anos de ouro do capitalismo” nos EUA e Europa; a expansão dos Tigres Asiáticos e do Japão, também teriam contado com condições demográficas favoráveis nos idos de 1960 e 1970; e na China, a “política do filho único”, dirigida a partir do processo de Reforma e Abertura iniciada em 1978 acabou por gerar um bônus demográfico que participa até hoje do dinamismo econômico que transformou o país asiático na “fábrica do mundo”.

O Estado brasileiro deve considerar tais questões, inclusive, no âmbito das políticas de integração continental, uma vez que com a exceção dos caribenhos, os países da América Latina conformam semelhantes dinâmicas populacionais.

Uma outra questão importante a ser colocada é que tais condições favoráveis são transitórias e não podem ser desperdiçadas. Pelas projeções estatísticas, nosso bônus demográfico se estenderá aproximadamente até 2030, e a partir de então se acentuará uma outra fase de transição demográfica.

A partir da queda expressiva das taxas de fecundidade e da manutenção de baixas taxas de mortalidade e elevação da expectativa de vida da população, passaremos a acompanhar um declínio da população jovem e um crescimento significativo da população idosa, o que exigirá profundas reestruturações no mundo do trabalho e em políticas públicas como saúde, previdência social e mobilidade urbana.

Enfrentar a herança conservadora

Para além da questão demográfica, a importância da juventude no debate do desenvolvimento vai além do seu peso populacional. Principalmente se a intenção não for reduzir o desenvolvimento do país ao mero crescimento econômico ou diluir a questão da juventude nos indicadores gerais de geração de postos de trabalho ou criação de novas vagas escolares.

A via conservadora de desenvolvimento e a própria existência do bônus demográfico, por si, nunca garantiu a inclusão da questão da juventude como pauta diferenciada. A incorporação à sociedade dos primeiros filhos da “onda jovem” durante os anos 1980 e 1990, por exemplo, coincidiu com o esgotamento do desenvolvimentismo conservador e a expansão do projeto neoliberal no país.

Depois de anos de baixo crescimento econômico e regressão social, podemos dizer que os jovens foram os maiores afetados pelos anos neoliberais. O desmonte da educação e saúde pública, a precarização do acesso ao mundo do trabalho, a escalada da violência nos centros urbanos, a concentração da propriedade no campo, entre outras faces do legado neoliberal, atingiram fortemente a vida dos jovens brasileiros.

Enfrentar tal herança exigirá uma ampliação do reconhecimento político e institucional iniciados pelo governo Lula, em que a compreensão da juventude como “problema social” a ser tutelado passa a perder força para a perspectiva de sujeito de direitos e os jovens se tornam um dos segmentos mais beneficiados pelos avanços das políticas sociais do governo.

Uma nova geração de políticas e direitos da juventude

A orientação geral do Governo Dilma em trabalhar a erradicação da miséria e da fome extrema como meta fundamental de governo continuará demandando um enfoque social ampliado das políticas sociais da juventude. A implementação de políticas públicas de juventude abrangentes e em escala devem colaborar na superação do ciclo de reprodução da pobreza que atinge as novas gerações.

Nesta perspectiva, a ampliação da cobertura das políticas sociais deve compreender também uma nova geração de políticas públicas de juventude e a criação de novos direitos sociais. O recorte conceitual que deve organizar essa nova geração de políticas é o da emancipação e do desenvolvimento integral dos jovens, passando pela afirmação de novos direitos específicos como ao financiamento público do tempo livre, à experimentação, à redução obrigatória da jornada de trabalho durante os estudos, ao trabalho decente, dentre outros.

Ademais, uma nova abordagem programática da articulação entre o mundo do trabalho e a educação para os jovens também se faz necessária.

Apontar uma inserção social e produtiva da juventude diferenciada da atual passa por enfrentar a situação do trabalho juvenil no país - precoce, precarizado, mal remunerado, com longas jornadas, incompatível com a continuidade dos estudos, etc. O desafio passa a ser o de combinar a criação de postos de trabalho decente para a juventude com o financiamento de programas que integrem políticas de transferência de renda, elevação continuada e qualitativa da escolaridade, tempo livre, formação científica e tecnológica e mobilização em serviços comunitários.

De igual maneira, a política educacional deve dar um salto de qualidade. Além da ampliação do acesso à todas as modalidades de ensino e a erradicação do analfabetismo, será preciso empreender uma reestruturação profunda do Ensino Médio em sua articulação com os distintos campos do saber e iniciação científica, na integração com o ensino técnico e profissional e nos seus instrumentos de ensino-aprendizagem, gestão democrática e política pedagógica.

A compreensão das demandas e aspirações destas novas gerações será fundamental para a disputa de um modelo de desenvolvimento alicerçado em reformas democráticas e populares. Construir uma maioria política na sociedade brasileira em torno um projeto democrático e popular de desenvolvimento que articule soberania nacional e integração regional, desenvolvimento econômico com progresso social e ampliação da democracia com participação popular não pode prescindir das novas gerações. Para setores expressivos da juventude brasileira tratar-se-á de uma luta por uma sociedade diferente da atual, em que os bloqueios da sociedade capitalista e do desenvolvimentismo conservador impedem seu pleno desenvolvimento e autonomia.

Bruno Elias é estudante de Serviço Social da Universidade de Brasília e Coordenador de relações internacionais da Juventude do PT