segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Estudantes não são "bixos"


De quem depende que a opressão prossiga?
De nós.
De quem depende que ela acabe?
Também de nós.
O que é esmagado que se levante!
O que está perdido, lute!


(Bertold Brecht)


Em tempo de volta às aulas, somos exigidos a refletir sobre uma prática infelizmente ainda presente no ingresso de novos estudantes à universidade: o trote tradicional. Requentada por uma tradição que se arrasta há centenas de anos, a prática do trote é uma violência à cultura democrática da universidade e deve ser combatida de maneira firme pelo movimento estudantil.

Longe de ser uma brincadeira, a imposição de humilhantes condições aos calouros compõe um ambiente universitário em que a cultura da violência é perpetuada e a existência de dominantes e dominados é vista como natural. Além disso, é lugar comum que a prática do trote acompanhe e reforce manifestações de machismo, racismo e homofobia nas universidades.

No trote, a desigualdade e a hierarquia são legitimadas na relação estabelecida entre os veteranos (“superiores”) e calouros (“inferiores”). Estes últimos, considerados “bixos” a serem “trotados” e domesticados, são submetidos a toda sorte de violência física e psicológica. Lamentavelmente, como num ciclo vicioso, parte destes explorados de hoje serão animados opressores dos calouros de amanhã.

Por sua vez, a idéia de que o trote promove a integração dos estudantes à universidade não é amparada pela realidade. Como bem afirma o professor Paulo Denisar Vasconcelos, em A violência no escárnio do trote tradicional (Santa Maria, UFSM, 1993), o trote seria um rito de passagem, de iniciação à vida universitária às avessas, por representar valores contraditórios com os valores humanistas próprios de uma universidade.

Romper com esta cultura entranhada na academia é algo indispensável para a construção de uma universidade que tenha sua formação e produção de conhecimento orientada por valores emancipadores e para o interesse das maiorias. Uma tarefa a ser assumida por todos os setores progressistas da universidade e menos dependente da lógica punitiva de novas leis ou medidas disciplinares internas, atualmente propostas no Congresso Nacional e nos Conselhos Superiores de algumas instituições.

A recepção dos calouros deve ser encarada pelo movimento estudantil como uma manifestação política e cultural, de integração do estudante à vida da universidade e desta com a comunidade que lhe abriga, a partir de valores humanistas e solidários. Um momento privilegiado de combate à reprodução da violência física e simbólica presente no trote tradicional e uma oportunidade para apresentar o movimento estudantil, suas entidades e lutas, despertando o interesse de participação entre os novos estudantes.

Um comentário:

  1. Oi Bruno, legal seu blog.
    É... falar de trote.. é bastante interessante. Eu lembrei que até quando fui DCE-UFAL, a nossa comemoração com os recém-chegados a universidade era uma coisa bastante cultural e divertida. NAda de violência ou idéias de que existe um veterano. Na verdade, em Maceió, chamos os alunos novos de Feras.. no sentido de que o cara conseguiu... é fera.. é massa... é o cara que conseguiu passar no vestibular. Existia também uma interação com os CA's e DCE, logo no dia em que saia o resultado. A divulgação dos aprovados era primeiramente feita pelo DCE em praça publica em cima de um trio elétrico, que depois da divulgação, sempre acontecia shows de bandas locais e até mesmo de bandas dos alunos da universidade. Rolava uma melecagem e um tal de cortar os cabelos dos meninos e tal, mas até onde eu sei, nunca aconteceu nenhuma tragédia. Eu sempre participava dos "trotes" porque era uma festa tranquila. Isso era uma FESTA com todos de todos os cursos.. todo mundo junto.. com familiares e tudo.
    Muito legal! Eu adorava aqui ali.
    bju saudade de vc!

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